23 dezembro 2014

Em memória de Fernando Machado Soares (1930-2014)



Fernando Machado Soares nasceu em São Roque do Pico (distrito da Horta, Açores), em 3 de Setembro de 1930 e licenciou-se nos finais da década de 50, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Este cantor, poeta e compositor, começou a cantar em Coimbra, nos anos 50, integrado num histórico grupo de fados e guitarradas, do qual faziam parte, entre outros, Luiz Goes, José Afonso, Fernando Rolim e Florêncio de Carvalho, e ainda António Brojo, António Portugal (guitarras), Aurélio Reis e Mário de Castro (violas).
Machado Soares colaborou intensamente com os organismos académicos da altura, tendo-se deslocado ao Brasil com o Orfeon em 1954 e feito o périplo de África com a Tuna, em 1956. Em 1961, já licenciado em Direito, acompanhou o Orfeon aos Estados Unidos da América.
Em 1957, com António Portugal e Jorge Godinho (guitarras) e Manuel Pepe e Levy Baptista (violas), Fernando Machado Soares prepara a gravação de um disco que ficará para a História como um dos momentos mais altos do fado de Coimbra e onde toda a sua criatividade renovadora ficou bem patente: o LP do "Coimbra Quintet", gravado para a Philips, em Madrid, num estúdio de excelentes condições técnico-acústicas.
Apesar da sua importante colaboração na concepção dos arranjos e de algumas composições suas figurarem no disco, acabou por ser Luiz Goes, e não Machado Soares, a registar a sua voz no vinil: pura e simplesmente, o cantor decidiu não se deslocar à gravação e, à última hora, foi substituído por Luiz Goes, o qual, rápida e talentosamente, recebeu o testemunho de Machado Soares e realizou uma brilhante performance em estúdio.
Machado Soares é talvez, depois de Menano e Bettencourt, o nome mais importante do fado de Coimbra (mais pela renovação que promoveu e pela qualidade e quantidade das suas composições, do que pela sua forma de interpretar, aliás também excelente).
Na realidade, foi este açoriano quem criou as condições da transição do fado clássico para as baladas e para as trovas, que as vozes de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira vieram a imortalizar: sem o contributo de Machado Soares, seguramente que teria sido outra, diferente e menos rica, a trajectória do Zeca e do Adriano (o qual, aliás, gravou muitas composições de Machado Soares).
Durante os seus tempos de Coimbra não era fácil conseguir ouvir cantar Machado Soares: ele só cantava quando lhe apetecia. E não lhe apetecia muitas vezes...
Curiosamente, foi depois de deixar Coimbra e iniciar a sua carreira de magistrado (em comarcas como Guimarães, Santarém, Almada e outras) que Machado Soares, aos fins-de-semana, rumava à Lusa Atenas para cantar e conviver, acolhendo-se à "sua" República Baco, onde vivera durante os seus tempos de estudante e onde, nessa altura, residiam José Niza (que o acompanhava à guitarra e à viola), Fernando Gomes Alves (outro cantor de fados), Manuel Pepe (já médico, mas ainda residente na República e viola do grupo de António Portugal) e ainda Francisco Bandeira Mateus, que fez versos para alguns dos fados de Machado Soares.
Entretanto, com a transferência para o Tribunal de Almada – já como juiz corregedor – a carreira de Machado Soares conhece imprevistos desenvolvimentos.
Nas noites de Lisboa começa a ser frequentador assíduo de casas de fado, acabando por se "fixar" no "Senhor Vinho", da fadista Maria da Fé [e do poeta José Luís Gordo], onde começou a ser acompanhado pelo grande guitarrista Fontes Rocha, pelos violas da casa e, muitas vezes, por Durval Moreirinhas. No "Senhor Vinho", Machado Soares actuava integrado no elenco dos artistas residentes, cantando sempre canções suas ou do repertório de Coimbra, e deliciando os frequentadores com a expressão da sua voz fortíssima e as "nuances" pianíssimas que imprimia às suas interpretações.
Aliás, o facto de ser juiz de dia e cantor à noite, não caiu bem no Ministério da Justiça, que considerava lesivas da dignidade da magistratura as suas actuações públicas. Machado Soares em nada alterou este seu "desdobramento de personalidade", continua a cantar onde lhe apetece e, entretanto, chegou ao topo da sua carreira de magistrado, sendo actualmente Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.
De toda a sua riquíssima obra destaca-se um tema que será um dos mais conhecidos e cantados da música popular portuguesa: a Balada do 6.º ano médico "Coimbra tem mais encanto / na hora da despedida". Para Machado Soares – e já lá vão mais de 35 anos passados sobre a despedida – Coimbra continua a ter encantos infinitos e a servir de motivação para uma das obras mais importantes da música portuguesa da segunda metade do século.

JOSÉ NIZA [texto publicado no livro apenso ao duplo CD "Fados e Guitarradas de Coimbra: Vol. 1", Movieplay, 1996]


Fernando Machado Soares faleceu em Almada, a 7 de Dezembro de 2014.
A notícia veio a lume no dia 10 (vide artigo de Gonçalo Fragata no "Público") mas a rádio estatal manteve-se completamente alheada do triste acontecimento. Como se explica que a Antena 1, atendendo às especiais obrigações que tem no domínio da música portuguesa, não tenha feito a devida homenagem ao eminente artista? A explicação encontra-se, evidentemente, no já sobejamente conhecido obscurantismo cultural de quem a dirige...
O blogue "A Nossa Rádio" pauta-se por uma atitude bem diferente e faz o serviço público de apresentar um punhado dos mais belos espécimes do repertório de Fernando Machado Soares, pois a melhor forma de render tributo à sua memória é ouvi-lo. E como se afigura muito a propósito na presente quadra, o rol termina com a canção "Oh Meu Menino Jesus", uma das mais maravilhosas peças do cancioneiro natalício que até hoje se criaram em Portugal (e no mundo). Uma pérola perdida no vinil...



Balada do Entardecer



Letra e música: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in EP "Fados e Guitarradas de Coimbra", Alvorada MEP 60109, 1958; "Fados e Guitarradas de Coimbra: Vol. 1": CD 1, Movieplay, 1996)


[instrumental]

Ó Mondego, ó Mondego,
Diz-me se corres p'ró mar!
Ao meu amor, em segredo,
Saudades quero mandar.

Ó Mondego, ó Mondego,
Diz-me se corres p'ró mar!

[instrumental]

Quero saudades mandar
Em troca das minhas dores.
Diz-me se corres p'ró mar,
Espelho das minhas dores!

Diz-me se corres p'ró mar,
Espelho das minhas dores!


* Fernando Machado Soares – voz
António Portugal e Jorge Godinho – guitarras de Coimbra
Manuel Pepe e Levy Baptista – violas



O Que Mais me Prende ao Mundo



Letra: Popular (1.ª quadra) e Fernando Machado Soares
Música: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in EP "Fados e Guitarradas de Coimbra", Alvorada MEP 60110, 1958; "Fados e Guitarradas de Coimbra: Vol. 1": CD 1, Movieplay, 1996)


[instrumental]

O que mais me prende ao mundo
Não é amor de ninguém;
É que a morte, de esquecida,
Deixa o mal e leva o bem.

[instrumental]

Quando eu um dia morrer,
Não chores, ó minha amada!
Também a morte é viver
Quando a vida não é nada.


* Fernando Machado Soares – voz
António Portugal e Jorge Godinho – guitarras de Coimbra
Manuel Pepe e Levy Baptista – violas



Fado da Noite



Letra: Popular
Música: Jorge de Morais (Xabregas)
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in EP "Fados e Guitarradas de Coimbra", Alvorada MEP 60111, 1958; "Fados e Guitarradas de Coimbra: Vol. 1": CD 2, Movieplay, 1996)


[instrumental]

A vida é negra, tão negra,
Como a noite nos pinhais;
Mas é nas noites mais negras
Que as estrelas brilham mais.

[instrumental]

Dá-me os teus olhos profundos
E pode o mundo acabar!
Que importa o mundo se há mundos
Lá dentro do teu olhar!


* Fernando Machado Soares – voz
António Portugal e Jorge Godinho – guitarras de Coimbra
Manuel Pepe e Levy Baptista – violas



Balada da Despedida (Coimbra Tem Mais Encanto)



Letra: Francisco Bandeira Mateus
Música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[bis]

Que as lágrimas do meu pranto
São a luz que lhe dá vida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[bis]

Quem me dera estar contente,
Enganar a minha dor,
Mas a saudade não mente
Se é verdadeiro o amor.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[bis]

Não me tentes enganar
Com a tua formosura,
Que para além do luar
Há sempre uma noite escura.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[bis]

Que as lágrimas do meu pranto
São a luz que lhe dá vida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[4x]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



O Fado dos Passarinhos (Passarinho da Ribeira)



Letra: Popular
Música: António Menano
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Passarinho da ribeira,
Se não és meu inimigo,
Empresta-me as tuas asas,
Deixa-me ir voar contigo!

Passarinho da ribeira,
Ai... deixa-me ir voar contigo!

Ao longe, cortando o espaço,
Vai um bando de andorinhas...
Que te leva um abraço
E muitas saudades minhas.

Ao longe, cortando o espaço,
Ai... vai um bando de andorinhas...


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Canção das Lágrimas



Letra e música: Armando Goes
Arranjo: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Lágrimas que a gente chora
E sufocam nossos ais,
Deixai-as lá ir embora,
Que elas vão, nem voltem mais.

[instrumental]

Tanta dor, tanta amargura,
A sulcar faces tão belas;
E tanta água que é pura
A lavar sujas vielas.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Fado da Mentira



Letra: António Menano
Música: António Menano e Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Fiz uma cova na areia
P'ra enterrar minha mágoa;
Entrou por ela o mar todo,
Não encheu a cova d'água.

[instrumental]

Ninguém conhece no rosto
Todo o bem que a alma inspira;
A vida é gosto e desgosto:
Mentira, tudo mentira.

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Rosas Brancas



Letra e música: António de Sousa
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Quando eu morrer, nem sequer
Na campa uma cruz erguida!
Para calvário, já basta
A cruz que eu levo da vida.

Quando eu morrer, nem sequer
Na campa uma cruz erguida!

[instrumental]

Quando eu morrer, rosas brancas
Para mim ninguém as corte!
Quem as não teve na vida
Também as não quer na morte.

Quando eu morrer, nem sequer
Na campa uma cruz erguida!


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Vira de Coimbra



Letra e música: Popular (anterior ao século XVIII)
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Coimbra, p'ra ser Coimbra,
Três coisas há-de contar:
Guitarras, tricanas lindas
E um estudante a cantar.

Ó Portugal que mais queres
Que mais podes desejar,
Se tem tão lindas mulheres,
O teu fado, o teu luar?

Dizem que amor de estudante
Não dura mais que uma hora;
Só o meu é tão velhinho
E inda se não foi embora.

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



O Meu Menino



Letra: Popular (1.ª quadra) e Alexandre Resende
Música: Alexandre Resende
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

O meu Menino é d'oiro,
É d'oiro o meu Menino;
Hei-de levá-lo ao céu
Enquanto for pequenino!

[instrumental]

Enquanto for pequenino,
Tão puro como o luar,
Hei-de levá-lo ao céu,
Hei-de ensiná-lo a cantar!


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Santa Clara



Letra e música: Ângelo de Araújo
Arranjo: Ângelo de Araújo
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Santa Clara, Santa Clara,
A teus pés corre o Mondego,
A namorar-te em segredo,
Minha linda Santa Clara!

[instrumental]

Beija-te os pés, Santa Clara,
O Mondego sonhador;
E nesse beijo de amor
Vão mil preces, Santa Clara!

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Fado das Andorinhas



Letra e música: António Almeida d'Eça
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Porque os meus olhos se apartam
Dos teus, não lhes queiras mal,
Que as andorinhas que partem
Voltam ao mesmo beiral!

[instrumental]

Eu hei-de voltar um dia,
Eu sou como as andorinhas,
Se as tuas saudades forem
Bater à porta das minhas.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Fado Corrido



Letra: Augusto Hilário (1.ª quadra) e Popular
Música: Popular
Arranjo: António Portugal
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

A minha capa velhinha
É da cor da noite escura;
Nela quero amortalhar-me
Quando for p'ra a sepultura.

[instrumental]

Coimbra, rio Mondego
Dos roussinóis ao luar,
Em tuas margens de sonho
Ficou minha alma a chorar.

[instrumental]

Hei-de perguntar um dia
Ao vento o que diz às flores,
Para ver se é só uma
Esta linguagem de amores.

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Produção – José Luís Gordo



Canto de Amor e de Amar



Letra: Ana Costa Nunes, Luís de Camões e Fernando Machado Soares
Música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira;
Quem amar segunda vez
Não amou bem da primeira.

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira...

De qualquer modo que existas,
És a minha divindade;
Ventura quando te vejo,
Se te não vejo, saudade.

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira...
[bis]

E quando já for saudade
Sem que nada nos conforte,
É sinal que ainda vive
Mesmo para além da morte.

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira;
Quem amar segunda vez
Não amou bem da primeira.

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira...
[bis]

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Serra d'Arga



Letra: Popular
Música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Abaixa-te, ó Serra d'Arga,
Que eu quero ver São Lourenço!
Quero ver o meu amor,
Acenar-lhe com o lenço.

[instrumental]

Menina do lenço preto,
Diga-me quem lhe morreu:
Se foi pai ou se foi mãe?
Que por ela morro eu!

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Balada do Outono



Letra e música: José Afonso
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Águas passadas do rio,
Meu sono vazio
Não vão acordar!
Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

Rios que vão dar ao mar,
Deixem meus olhos secar!
Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

[instrumental]

Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

[instrumental]

Águas do rio correndo,
Poentes morrendo
P'rás bandas do mar...
Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

Rios que vão dar ao mar,
Deixem meus olhos secar!
Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

[instrumental]

Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Maria



Letra e música: Ângelo de Araújo
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Maria, se fores ao baile,
Leva o teu xaile,
Pode chover!
De manhã, de madrugada
Cai a geada,
Podes morrer.

[instrumental]

Maria, se ouvires cantar,
Vem ao luar
Ouvir quem canta!
Que a noite, com seu luar,
Lembra o olhar
De quem me encanta.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Maria Faia



Letra e música: Popular (Beira Baixa)
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Eu não sei como te chamas,
Ó Maria Faia,
Nem que nome te hei-de eu pôr,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

Cravo não, que tu és rosa,
Ó Maria Faia;
Rosa não, que não tem flor,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

[instrumental]

Não te quero chamar cravo,
Ó Maria Faia,
Que te vou engrandecer,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

Chamo-te antes espelho,
Ó Maria Faia,
Onde espero de me ver,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

[instrumental]

Dizem que a saudade espera,
Ó Maria Faia,
A ausência para chegar,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

Eu tenho saudades tuas,
Ó Maria Faia,
Inda antes de te deixar,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Mário Duarte – adufe



Foi Deus



Letra e música: Alberto Janes
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Não sei...
Não sabe ninguém
Porque canto o fado
Neste tom magoado
De dor e de pranto;
E neste tormento,
Todo sofrimento,
Eu sinto que a alma
Cá dentro se acalma
Nos versos que canto.

Foi Deus
Que deu voz ao vento,
Luz ao firmamento
E deu o azul às ondas do mar;
Foi Deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que eu vou desfiando e choro a cantar.

Pôs as estrelas no céu,
Fez o espaço sem fim,
Deu o luto às andorinhas
Ai... e deu-me esta voz a mim.

Se canto...
Não sei o que canto:
Misto de ventura,
Saudade, ternura
E talvez amor;
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando
Se tem um desgosto
E o pranto no rosto
Nos deixa melhor.

Foi Deus
Que deu luz aos olhos,
Perfumou as rosas,
Deu oiro ao sol e prata ao luar;
Foi Deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que eu vou desfiando e choro a cantar.

Fez poeta o rouxinol,
Pôs no campo o alecrim,
Deu as flores à Primavera
Ai... e deu-me esta voz a mim.

[instrumental]

Deu as flores à Primavera
Ai... e deu-me esta voz a mim.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Estrelinha do Norte



Letra: Popular (1.ª quadra) e Ângelo de Araújo
Música: João Gonçalves Jardim
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Ó estrelinha do norte,
Espera por mim que eu já vou!
Alumia meu caminho,
Já que o luar me enganou!

[instrumental]

Seguirei sempre a teu lado
No rasto da tua luz;
Não quero mais o luar
Alumiar minha cruz.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Fado Resende



Poema: Manuel Laranjeira
Música: Alexandre Resende
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)


[instrumental]

Ao morrer, os olhos dizem:
– «Pára, Morte, e espera aí!
Vida, não vás tão depressa
Que eu inda te não vivi...»

[instrumental]

A Vida foge e a Morte
É quem responde em vez dela:
– «Mas que culpa tem a Vida
De que não saibam vivê-la?»


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Produção – João Calado
Gravado e misturado no Estúdio Angel 2, Lisboa



A Ilha e o Sonho



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

No meu sonho de menino
Via-te ao longe a vogar,
Como Bela Adormecida
Entre o céu e o azul do mar.

Em noites de tempestade,
Enfrentando a maresia,
Eras um Barco Encantado
No meu sonho e fantasia.

Tantos anos já passaram,
Foi-se a vida, foi-se a esperança,
Mas ficou sempre em minha alma
Esse sonho de criança.

[instrumental]



Senhora d'Aires



Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

A Senhora d'Aires
De ao pé de Viana
Tem o seu altar
Feito à romana.

Tem o seu altar
Feito à romana
A senhora d'Aires
De ao pé de Viana.

As cobrinhas d'água
São minhas comadres;
Quando lá passares
Dá-lhes saudades.

Dá-lhes saudades,
Saudades minhas,
Quando lá passares
Ao pé das cobrinhas.

As cobrinhas d'água
São minhas comadres;
Quando lá passares
Dá-lhes saudades.

Dá-lhes saudades,
Saudades minhas,
Quando lá passares
Ao pé das cobrinhas.

[instrumental]

A Senhora d'Aires
De ao pé de Viana
Tem o seu altar
Feito à romana.

Tem o seu altar
Feito à romana
A senhora d'Aires
De ao pé de Viana.

[instrumental]

A Senhora d'Aires
De ao pé de Viana
Tem o seu altar
Feito à romana.

[instrumental]





Viana do Alentejo: Santuário de Nossa Senhora de Aires.
O altar em baldaquino faz lembrar o da Basílica de São Pedro, em Roma.



Santa Luzia



Letra: Popular da Beira Baixa (1.ª quadra) e Fernando Machado Soares
Música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Para que quero eu olhos,
Senhora Santa Luzia,
Se eu não vejo meu amor
Nem de noite, nem de dia?

[instrumental]

Senhora Santa Luzia,
Senhora do meu pesar,
Porque não me dais os olhos
P'ra o meu amor encontrar?



Teu Nome



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Teu nome na voz do vento,
Teu nome na voz do mar,
Teu nome encantamento
Da vida só por te amar.

Teu nome na voz do vento,
Teu nome na voz do mar...

[instrumental]

Teu nome traz o luar,
Traz o sonho, traz a esperança
De um dia eu te encontrar
Como um barco, a bonança.



Balada para uma Vida



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Meu amor na primavera,
Flor de sol do meu jardim
Que me enlaça como a hera
No corpo que nasce em mim.

Meu amor na primavera,
Flor de sol do meu jardim...

[instrumental]

Pôr-do-sol, morto, sem cor
Nas sombras do meu outono
Onde agoniza uma flor
E a minha noite, sem sono.

Pôr-do-sol, morto, sem cor
Nas sombras do meu outono...



Noites de Festa



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Todos gostam de Coimbra,
Todos querem lá passar
Mas ninguém sabe o que custa
Ter um dia que a deixar.

[instrumental]

És tão velha, tão antiga,
Ninguém sabe a tua idade,
Mas ainda és tão bela
Que a todos deixas saudades.

[instrumental]

Minha dor já era grande
Ao cantar nas tuas ruas,
Pois ainda em estudante
Já tinha saudades tuas.

[instrumental]



Trova do Vento Que Passa



Poema: Manuel Alegre
Música: António Portugal
Arranjo: António Portugal
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
O vento cala a desgraça
O vento nada me diz.

[instrumental]

Mas há sempre uma candeia
Dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia
Canções no vento que passa.

[instrumental]

Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz e viola
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Ricardo Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Direcção artística – Frédéric Deval
Gravado e misturado em Arles à la Chapelle du Méjan, em Setembro de 1993, por Jean-Claude Chabin, assistido por Gérard Faucilhon



Oh Meu Menino Jesus



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in single "Natal / Oh Meu Menino Jesus", Philips/Polygram, 1986)


[instrumental]

Oh meu Menino Jesus,
Vestido cor de marfim,
Um corpo tão pequenino,
Um coração sem ter fim!

Oh meu Menino Jesus,
Vestido cor de marfim...

[instrumental / vocalizos]

Abrem-se as flores do monte
Para o Menino as pisar;
Rasgam-se as águas da fonte
Para a sede lhe matar.

Abrem-se as flores do monte
Para o Menino as pisar...

[instrumental / vocalizos]

Deixem passar o Menino
Pela mão da Virgem Maria!
Onde põe os seus pezinhos
Há para sempre alegria.

Deixem passar o Menino
Pela mão da Virgem Maria!...

[instrumental / vocalizos]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Ramon Galarza – teclas
Produção – Ramon Galarza
Gravado no Estúdio Angel 2, Lisboa



Capa do EP "Fados e Guitarradas de Coimbra" (Alvorada MEP 60109, 1958)
Disco colectivo; contém um tema cantado por Fernando Machado Soares: "Balada do Entardecer"



Capa do EP "Fados e Guitarradas de Coimbra" (Alvorada MEP 60110, 1958)
Disco colectivo; contém um tema cantado por Fernando Machado Soares: "O Que Mais me Prende ao Mundo"



Capa do EP "Fados e Guitarradas de Coimbra" (Alvorada MEP 60111, 1958)
Disco colectivo; contém um tema cantado por Fernando Machado Soares: "Fado da Noite"



Capa do LP "Coimbra Tem Mais Encanto" (Philips/Polygram, 1986)
Contém dez temas (todos cantados)



Capa do single "Natal / Oh Meu Menino Jesus" (Philips/Polygram, 1986)



Capa do LP "Serenata" (Philips/Polygram, 1988)
Contém oito temas (todos cantados)



Capa do CD "Fernando Machado Soares" (Philips/Polygram, 1988)
Reúne os temas (dezoito) dos LPs "Coimbra Tem Mais Encanto" e "Serenata"



Capa do CD "Le Fado de Coimbra" (Ocora/Radio France, 1988)
Contém catorze temas (doze cantados e dois instrumentais) gravados ao vivo no Grand Auditoire da Radio France, Paris, a 18 de Março de 1987



Capa do CD "Le Fado de Coimbra" (Ethnic/Auvidis, 1994)
Fotografia de azulejos do Palácio Fronteira, em Lisboa. © Nicolas Sapieha
Contém doze temas (dez cantados e dois instrumentais)

08 dezembro 2014

27 novembro 2014

O canto alentejano é património da Humanidade



O canto alentejano, ou simplesmente cante, foi hoje reconhecido pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Motivo de regozijo para as pessoas, com o antropólogo Paulo Lima à cabeça, que organizaram o processo de candidatura e o apresentaram àquela agência da ONU, sediada em Paris. Motivo de júbilo e de orgulho também para Portugal ao ver uma das suas expressões musicais mais genuínas receber tão prestigiosa distinção.
E como tem ido a divulgação do canto alentejano na rádio portuguesa? Nas privadas de âmbito nacional nada existe e na estação pública vejo apenas a rubrica "Cantos da Casa", de Armando Carvalhêda, que de vez em quando dá a ouvir cinco modas durante uma semana (uma por dia). É claramente insuficiente e com a agravante de a transmissão ser em horários em que a maioria das pessoas está a dormir (05:55) ou a trabalhar (14:55), logo sem a disponibilidade mental e a atenção que o cante requer (não se devendo esquecer as pessoas que exercem funções não compatíveis com a escuta de rádio, que não são poucas). A culpa do miserabilismo da rádio estatal no que ao cante diz respeito não pode, evidentemente, ser assacada a Armando Carvalhêda, pois o seu exíguo apontamento tem de abranger toda a música tradicional portuguesa e os horários de transmissão não são sua responsabilidade. As contas têm de ser pedidas a Rui Pêgo (director de programas) e a António Luís Marinho (director-geral de conteúdos) pelo desprezo e marginalização a que têm votado a música popular portuguesa (a tradicional e a de autor naquela inspirada). A este propósito, convém lembrar que foram eles mesmos que, de forma prepotente e afrontosa, decidiram suprimir da grelha da Antena 1 o programa que, desde que começou no dealbar dos anos 80, sempre acarinhou o cante. E não só o cante – também as outras modalidades da tradição oral alentejana: as modas acompanhadas à viola campaniça, o canto ao despique conhecido como "baldão" e as saias do Alto Alentejo, sem esquecer a poesia dita. Referimo-nos, como era fácil de intuir, ao maravilhoso "Lugar ao Sul", de Mestre Rafael Correia. Veículo de divulgação da cultura tradicional portuguesa, de todo o território continental e insular, se bem que com maior incidência no Algarve e na grande planície transtagana, o programa tornou-se ele mesmo património – porque de todo insubstituível e porque o seu vasto arquivo é um precioso e inestimável repositório da nossa memória popular. Importa pois resgatá-la às teias de aranha e trazê-la para a luz do éter (cf. É preciso resgatar a memória do "Lugar ao Sul").
À laia de ilustração do cante (porque mais importante do que discorrer sobre dele é ouvi-lo), aqui se apresenta a moda "Alentejo, Alentejo", pelo Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa. A letra principia com a célebre quadra da terra («Eu sou devedor à terra, / A terra me está devendo; / A terra paga-me em vida, / Eu pago à terra em morrendo.»), que esteve em destaque em, pelo menos, uma emissão do "Lugar ao Sul". Foi aí, aliás, que o escrevente destas linhas tomou contacto com ela e lhe ficou indelevelmente gravada na mente.
Nesta gravação, a força que emana das vozes em uníssono – um uníssono vibrante e arrebatador – é tal que nos põe em pele de galinha e nos deixa os olhos marejados. Um portento! O cante da margem esquerda no seu máximo esplendor!
Fica, desde já, manifestada a intenção de voltarmos ao canto alentejano para o celebrar mais amplamente e, desse modo, rendermos a devida homenagem a uma boa plêiade de grupos corais (masculinos, femininos e mistos).



Alentejo, Alentejo



Letra e música: Popular
Intérprete: Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa* (in CD "Serpa de Guadalupe", Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, 2000)


Eu sou devedor à terra,
A terra me está devendo;
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo.

Alentejo, Alentejo,
Terra sagrada do pão!
Hei-de ir ao Alentejo,
Mesmo que seja no Verão,

Ver o doirado do trigo
Na imensa solidão.
Alentejo, Alentejo,
Terra sagrada do pão!


* Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa:
Carlos Carrasco, Carlos Paraíba, Domingos Rijo, Francisco Torrão, João Manuel, João Neca, Luís Ferreira, Luís Neves, Mário Apolinário, Vicente Cachopo, José Gonçalves, Manuel Mamede, António Gato, Carlos Fava, José da Graça, João Martins, António Lourenço, António Evaristo, José António, José Filipe, José Maria, Matias Galego, Domingos Camões, Hélder Ferreira, Leonel Patrício
Direcção – Francisco Torrão
Gravado na Casa do Povo de Serpa, a 27 de Fevereiro de 2000
Técnico de som – Rui Guerreiro (MG Estúdio), assistido por Luís Melgueira
Misturado no MG Estúdio, Beja
URL: http://www.cm-serpa.pt/artigos.asp?id=1146
http://www.luardameianoite.pt/bd/cd/info/info28.html
http://www.joraga.net/gruposcorais/pags00/097SerpaCasaPovo.htm



Capa do CD "Serpa de Guadalupe", do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa (2000)

06 outubro 2014

19 setembro 2014

A infância e a música portuguesa (IV)

Quarta parte: Na escola – Primeiros passos >>> aqui

07 agosto 2014

Celebrando Edmundo de Bettencourt



EDMUNDO BETTENCOURT

Vinde ouvir vinde ouvir a voz de Edmundo
Bettencourt. Essa voz que fica acima
da nota mais aguda onde então rima
com mar alto ó mar alto sem ter fundo.

Há nela uma Achadinha açoriana
cravos da Beira Baixa e da tristeza
e aquele não quer ser castelhana
de quem não pode ser mais portuguesa.

Vinde ouvir a saudade saudadinha
Senhora do Almortão e a mágoa infinda
dessa voz acabada de nascer.

Vinde ouvir. E quando ela for velhinha
mesmo assim a ouvireis cantar ainda
acabada acabada de morrer.

Manuel Alegre (in "Coimbra Nunca Vista", Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995 – p. 79)


Nascido a 7 de Agosto de 1899 no Funchal, Edmundo Alberto Bettencourt, ou simplesmente Edmundo de Bettencourt (nome artístico-literário), marcou a primeira metade do século XX português com a sua arte particular. Uma arte que Herberto Hélder, de forma apaixonada, inscreveu «nas zonas mais puras» [no prefácio ao livro "Poemas de Edmundo de Bettencourt", Lisboa: Portugália, 1963]. José Afonso, por seu lado, considerava Edmundo de Bettencourt o maior cantor de sempre do fado de Coimbra (oito dos dez espécimes que José Afonso gravou para o álbum "Fados de Coimbra e Outras Canções", de 1981, são do repertório de Edmundo de Bettencourt, que aliás é o primeiro dos dois dedicatários do disco – o segundo é o pai do autor da "Balada do Outono"). Descrições arrebatadas que dizem muito sobre o modo como o artista tocou as gerações que com ele conviveram, assim como as que da sua vida apenas receberam os ecos de uma obra rara, mas rica e seminal.
Depois de uma primeira inscrição no curso de Direito em Lisboa, Edmundo de Bettencourt chegou a Coimbra em 1922. Aí, juntamente com o guitarrista Artur Paredes (pai de Carlos Paredes), revolucionou o fado da Lusa Atenas. Lado a lado com outras grandes vozes como António Menano, Edmundo de Bettencourt cristalizou uma nova linha na interpretação da canção coimbrã impregnando-a de «um lirismo mais forte», nas palavras de Manuel Alegre. Rui Pato, músico associado à balada de Coimbra (é dele a viola na maioria do repertório que José Afonso e Adriano Correia de Oliveira gravaram na década de 60), refere-se a Edmundo de Bettencourt como «o primeiro grande inovador». Foi ele que abriu o caminho para que, a partir de 1960, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Luiz Goes pudessem levar mais longe não só a forma como o conteúdo da Canção de Coimbra.
Edmundo de Bettencourt esteve também intimamente ligado a um importante movimento literário surgido em Coimbra em meados dos anos 20, consubstanciado na revista "Presença", da qual foi elemento fundador, afastando-se em 1930 juntamente com Miguel Torga e Branquinho da Fonseca. Apesar da dissensão, Edmundo de Bettencourt nunca se alheou das tertúlias e da discussão, construindo uma reputação de excelente conversador e observador atento das novas correntes, designadamente do movimento surrealista de Lisboa. Em 1963, a sua produção poética, a anteriormente publicada e a inédita, foi reunida no volume "Poemas de Edmundo de Bettencourt". No prefácio, Herberto Hélder afirma que o autor de "O Momento e a Legenda" e "Poemas Surdos" é «um poeta», complementado: «E não há por aí máquinas maternas de produzi-los seriamente.» Nós permitimo-nos acrescentar que foi poeta e cantor.
Neste CD reúne-se a maioria das gravações feitas em finais da década de 20 (Fevereiro de 1928 e Dezembro de 1929). São verdadeiras matrizes de um sentir, de um viver, de uma paixão. Matrizes que perduraram no tempo tornando-se eternas. Espécimes como "Menina e Moça", "Samaritana", "Canção do Alentejo", "Mar Alto", "Canção da Beira Baixa", "Saudades de Coimbra", "Senhora do Almortão e Senhora da Póvoa" ou "Saudadinha" são obras-primas do canto português, palavras e melodias que o tempo se encarregou de tornar maiores do que a vida. Emblemas de uma alma. Em suma: peças intemporais.
[adaptado do texto, não assinado, inserto no caderno do CD "Edmundo de Bettencourt: O Poeta Cantor", Discos Popular/Produções Valentim de Carvalho, 1999]


O 115.º aniversário do nascimento de Edmundo de Bettencourt é um bom pretexto para celebrarmos o insigne cantor e, por extensão, a canção de Coimbra, que tanto lhe deve, mas que tão maltratada tem sido pela rádio do Estado, mesmo depois da consagração pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade, o que aconteceu a 22 de Junho de 2013.
Edmundo de Bettencourt gravou muito pouco e desse escasso conjunto de gravações nem todas saíram em disco. Apenas dezasseis espécimes, originalmente repartidos por oito discos de 78 rpm, com selo Columbia. É esse precioso acervo que agora apresentamos, com recurso a várias compilações em CD, escolhendo as faixas com menos ruídos parasitas e que melhor fazem justiça à belíssima voz de Edmundo de Bettencourt, uma vez que – e lamentavelmente – ainda está por fazer uma edição reunindo a integral do cantor, nela se incluindo os espécimes nunca editados (caso os registos ainda existam), com o devido tratamento do som que a tecnologia de hoje permite.
No respeitante às letras, autorias e discos, a fonte foi o completíssimo artigo de José Anjos de Carvalho, publicado no blogue "Guitarra de Coimbra".



Menina e Moça



Letra: Américo Cortez Pinto (1.ª quadra) e Popular (2.ª quadra)
Música: Fausto de Almeida Frazão (Quintanista de Medicina 1919-20)
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Menina e Moça / Fado da Sugestão", Columbia, 1928; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fados From Portugal: Volume 2 (1926-1930)", Heritage, 1992; CD "Arquivos do Fado: Vol. II – Fado de Coimbra (1926-1930)", Tradisom, 1994)




[instrumental]

Coimbra, menina e moça,
Roussinol de Bernardim,
Não há terra como a nossa,
Não há no mundo outra assim...

[instrumental]

Coimbra é de Portugal
Como a flor é do jardim,
Como a estrela é do céu,
Como a saudade é de mim.

[instrumental]


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Fado da Sugestão



Letra: (?)
Música: Alexandre de Rezende (1886-1953)
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Menina e Moça / Fado da Sugestão", Columbia, 1928; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fados From Portugal: Volume 2 (1926-1930)", Heritage, 1992; CD "Arquivos do Fado: Vol. II – Fado de Coimbra (1926-1930)", Tradisom, 1994)




[instrumental]

Não digas "não", dize "sim",
Muito embora amor não sintas,
Que um "não" envenena a gente;
Dize "sim" inda que mintas.

[instrumental]

Não digas "não", dize "sim",
Sê ao menos a primeira;
Falta-me embora à verdade,
Não sejas tão verdadeira.


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Samaritana



Letra e música: Álvaro Cabral (1865-1918)
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Samaritana / Canção do Alentejo", Columbia, 1928; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fado de Coimbra: Vol. 1", col. Um Século de Fado, Ediclube, 1999)


[instrumental]

Dos amores do Redentor
Não reza a História Sagrada
Mas diz uma lenda encantada
Que o bom Jesus sofreu de amor.

Sofreu consigo e calou
Sua paixão divinal,
Assim como qualquer mortal
Que um dia de amor palpitou.

Samaritana,
Plebeia de Sicar,
Alguém espreitando
Te viu Jesus beijar
De tarde quando
Foste encontrá-lo só,
Morto de sede
Junto à fonte de Jacob.

E tu, risonha, acolheste
O beijo que te encantou;
Serena, empalideceste
E Jesus Cristo corou.

Corou por ver quanta luz
Irradiava da tua fronte,
Quando disseste: – Ó Meu Jesus,
Que bem eu fiz, Senhor, em vir à fonte!

Samaritana,
Plebeia de Sicar,
Alguém espreitando
Te viu Jesus beijar
De tarde quando
Foste encontrá-lo só,
Morto de sede
Junto à fonte de Jacob.


Nota: «Sicar é, provavelmente, a antiga Siquém (em hebraico, Sichara), ou a actual aldeia de Askar, quase ao pé do Monte Ebal, próximo do Poço de Jacob.» ( José Anjos de Carvalho)

* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Canção do Alentejo



Letra e música: Popular
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Samaritana / Canção do Alentejo", Columbia, 1928; CD "Fados From Portugal: Volume 2 (1926-1930)", Heritage, 1992; CD "Arquivos do Fado: Vol. II – Fado de Coimbra (1926-1930)", Tradisom, 1994)


[instrumental]

Lá vai Serpa, lá vai Moura
(Ai) E as Pias ficam no meio;
Quem vier à minha terra
(Ai) Não tem de que ter receio.

[instrumental]

Teus olhos, linda morena,
(Ai) Fazem-m'a alma sombria;
Quero-te mais, ó morena,
(Ai) Do que à luz de cada dia.


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Inquietação



Letra: Edmundo de Bettencourt
Música: Alexandre de Rezende (1886-1953)
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Inquietação / Fado de Anto", Columbia, 1928; CD "O Poeta Cantor", Discos Popular/Produções Valentim de Carvalho, 1999)


[instrumental]

Quanto mais foges de mim,
Mais corro e menos te alcanço;
O meu amor não tem fim,
Morrerei mas não me canso.

[instrumental]

Todo o bem que não se alcança
Vive em nós, morto de dor;
Quem ama, de amar não cansa
E se morrer é de amor.


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Fado de Anto



Letra: António Nobre (1867-1900)
Música: Francisco Menano (1888-1970)
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Inquietação / Fado de Anto", Columbia, 1928; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fado de Coimbra: Vol. 1", col. Um Século de Fado, Ediclube, 1999)


[instrumental]

A cabra da velha torre,
Meu amor, chama por mim...
Quando um estudante morre
Os sinos tocam assim...

Oh quem me dera abraçar-te
Junto ao peito, assim, assim...
Levar-me a morte e levar-te
Toda abraçadinha a mim!


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Fado de Santa Cruz



Letra: Popular
Música: Fortunato Roma da Fonseca
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Fado de Santa Cruz / Mar Alto", Columbia, 1928; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fados From Portugal: Volume 2 (1926-1930)", Heritage, 1992; CD "Arquivos do Fado: Vol. II – Fado de Coimbra (1926-1930)", Tradisom, 1994)


[instrumental]

Igreja de Santa Cruz,
Feita de pedra morena,
Dentro de ti vão rezar
Uns olhos que me dão pena.

[instrumental]

Quando estavas na igreja,
A teus pés ajoelhei:
À Virgem por mim rezavas,
À Virgem por ti rezei.


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Mar Alto



Letra: Edmundo de Bettencourt
Música: Mário Faria da Fonseca
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Fado de Santa Cruz / Mar Alto", Columbia, 1928; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fados From Portugal: Volume 2 (1926-1930)", Heritage, 1992; CD "Arquivos do Fado: Vol. II – Fado de Coimbra (1926-1930)", Tradisom, 1994)




[instrumental]

Fosse o meu destino o teu,
Ó mar alto, sem ter fundo:
Viver tão perto do céu,
Andar tão longe do mundo.

[instrumental]

Antes as tuas tormentas
Do que todas as revoltas;
Num sólio azul te adormentas
E a soluçar nunca voltas.


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Canção da Beira Baixa



Letra e música: Popular
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Canção da Beira Baixa / Crucificado", Columbia, 1928; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fados From Portugal: Volume 2 (1926-1930)", Heritage, 1992; CD "Arquivos do Fado: Vol. II – Fado de Coimbra (1926-1930)", Tradisom, 1994)




[instrumental]

Era ainda pequenina,
Acabada de nascer,
Inda mal abria os olhos
Já era para te ver,
Acabada de nascer.

[instrumental]

Quando eu já for velhinha,
Acabada de morrer,
Olha bem para os meus olhos:
Sem vida, inda te hei-de ver,
Acabada de morrer.

[instrumental]


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Crucificado



Letra: Francisco Bastos de Oliveira Matos (1864-1901)
Música: Fortunato Roma da Fonseca
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Canção da Beira Baixa / Crucificado", Columbia, 1928; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fados From Portugal: Volume 2 (1926-1930)", Heritage, 1992; CD "Arquivos do Fado: Vol. II – Fado de Coimbra (1926-1930)", Tradisom, 1994)


[instrumental]

Ave-marias são beijos,
(Ai) Padre-nossos são abraços;
Rosário dos meus desejos,
A cruz é abrires-me os braços.

[instrumental]


De rezar beijos e abraços,
(Ai) E desejos estou cansado;
Abre depressa os teus braços,
Quero ser crucificado!


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Albano de Noronha – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado no Palácio dos Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), Porto, em Fevereiro de 1928



Fado dos Olhos Claros



Letra: Edmundo de Bettencourt
Música: Mário Faria da Fonseca
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Fado dos Olhos Claros / Alegria dos Céus", Columbia, 1930; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fado de Coimbra: Vol. 6", col. Um Século de Fado, Ediclube, 1999)


[instrumental]

A luz dos teus olhos claros
É uma estrela a lucilar
Que eu ora vejo no céu,
(Ai2) Ora nas ondas do mar.

[instrumental]

Ó olhar da claridade,
Ó olhar do luar na água,
Sagrado espelho onde vejo
(Ai2) A sombra da minha mágoa.


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Afonso de Sousa – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado em Lisboa, em Dezembro de 1929



Alegria dos Céus



Letra: José Campos de Figueiredo (1899-1965)
Música: Mário Faria da Fonseca
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Fado dos Olhos Claros / Alegria dos Céus", Columbia, 1930; CD "O Poeta Cantor", Discos Popular/Produções Valentim de Carvalho, 1999)


[instrumental]

Ó alegria dos Céus
Tua luz bendita seja!
Quem vive em graça com Deus
Tem aquilo que deseja.

[instrumental]

Luz divina da alegria,
Venha a nós a tua graça!
Que a gente possa sorrir
Na ventura e na desgraça!


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Afonso de Sousa – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado em Lisboa, em Dezembro de 1929



Balada do Encantamento



Letra e música: José Paes de Almeida e Silva (1929)
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Balada do Encantamento / Saudades de Coimbra", Columbia, 1930; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "O Poeta Cantor", Discos Popular/Produções Valentim de Carvalho, 1999)


[instrumental]

Dentro de ti, ó Leiria,
Vive uma moira encantada...
Não sabes, é minha amada
E tem por nome Maria.

[instrumental]

Leiria, foste um ladrão,
Leiria do rio Lis,
Roubaste-me o coração
E, vê lá tu, sou feliz.


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Afonso de Sousa – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado em Lisboa, em Dezembro de 1929



Saudades de Coimbra



Letra: António de Sousa (1898-1981)
Música: Mário Faria da Fonseca
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Balada do Encantamento / Saudades de Coimbra", Columbia, 1930; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fado de Coimbra: Vol. 6", col. Um Século de Fado, Ediclube, 1999)


[instrumental]

Oh Coimbra do Mondego
E dos amores que lá tive,
Quem te não viu, anda cego;
Quem te não ama, não vive.

[instrumental]

Do Choupal até à Lapa
Foi Coimbra os meus amores.
A sombra da minha capa
Deu no chão, abriu em flores.


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Afonso de Sousa – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado em Lisboa, em Dezembro de 1929



Senhora do Almortão e Senhora da Póvoa



Letra e música: Popular (Beira Baixa)
Arranjo: Artur Paredes
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Senhora do Almortão e Senhora da Póvoa / Saudadinha", Columbia, 1930; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "Fado de Coimbra: Vol. 1", col. Um Século de Fado, Ediclube, 1999)




[instrumental]

Senhora do Almortão,
Ó minha rosa encarnada,
Ao cimo do Alentejo
Chega a vossa nomeada.

Senhora do Almortão,
Minha tão linda raiana,
Vira as costas a Castela,
Não queiras ser castelhana!

Não queiras ser castelhana
(Ai) Nossa Senhora da Póvoa, [bis]
Minha boquinha de riso,
Minha maçã camoesa [bis]
Criada no Paraíso. [bis]

[instrumental]

Senhora do Almortão,
A vossa capela cheira...
Cheira a cravos, cheira a rosas,
Cheira à flor da laranjeira.

Cheira à flor da laranjeira
(Ai) Nossa Senhora da Póvoa, [bis]
Minha boquinha de riso,
Minha maçã camoesa [bis]
Criada no Paraíso. [bis]

[instrumental]


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Afonso de Sousa – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado em Lisboa, em Dezembro de 1929



Saudadinha



Letra e música: Popular (Açores)
Intérprete: Edmundo de Bettencourt* (in disco de 78 rpm "Senhora do Almortão e Senhora da Póvoa / Saudadinha", Columbia, 1930; LP "Fados de Coimbra: Edmundo de Bettencourt", EMI-VC, 1984; CD "O Poeta Cantor", Discos Popular/Produções Valentim de Carvalho, 1999)




[instrumental]

Ó tirana saudade, [3x]
Saudade, ó minha saudadinha,
Foste nada no Faial, [3x]
No Faial, baptizada na Achadinha.

[instrumental]

Saudade, onde tu fores [3x]
Saudade, leva-me, podendo ser:
Eu quero ir a acabar, [3x]
Saudade, onde tu fores morrer.

[instrumental]


* Edmundo de Bettencourt – voz
Artur Paredes e Afonso de Sousa – guitarras de Coimbra
Mário Faria da Fonseca – viola
Gravado em Lisboa, em Dezembro de 1929



Capa do CD "Fados From Portugal: Volume 2 (1926-1930)" (Heritage, 1992)
Nas fotografias: Artur Paredes (à esquerda) e José Joaquim Cavalheiro Jr.
Contém dez temas cantados por Edmundo de Bettencourt.



Capa do CD "Arquivos do Fado: Vol. II – Fado de Coimbra (1926-1930)" (Tradisom, 1994)
Mesmo conteúdo do disco anterior



Capa do CD "Fado de Coimbra: Vol. 1", col. Um Século de Fado (Ediclube, 1999)
Contém quatro temas cantados por Edmundo de Bettencourt.



Capa do CD "Fado de Coimbra: Vol. 6", col. Um Século de Fado (Ediclube, 1999)
Contém cinco temas cantados por Edmundo de Bettencourt.



Capa do CD "O Poeta Cantor" (Discos Popular/Produções Valentim de Carvalho, 1999)
Contém quinze temas cantados por Edmundo de Bettencourt.



Página do caderno do disco anterior com outra fotografia de Edmundo de Bettencourt e uma dedicatória autografada:
Ao Arthur Paredes, velho e querido amigo e... compadre, com um grande abraço.
Coimbra, 1929
Edmundo Bettencourt

23 julho 2014

Celebrando Carlos Paredes



A menos que se lhe aceitem os arranjos mais ou menos livres, a guitarra portuguesa é um intérprete muito pouco fiel de toda a música que não tenha saído das suas cordas, de preferência pelas mãos do próprio executante. A razão está em que, para revelar convenientemente as qualidades que a distinguem dos outros instrumentos congéneres, é necessário empregar uma técnica híbrida da mão direita, um misto de plectrum e primitiva dedilhação do alaúde.
E a verdade é que, até hoje, apesar de várias e persistentes experiências, não foi possível substituí-la por outra mais racional. António da Silva Leite, compositor radicado na cidade do Porto, publicou, nos fins do século XVIII, um método e seis sonatas para guitarra portuguesa, com acompanhamento, ad libitum, de um violino e duas trompas.
O termo ad libitum refere-se, aqui, a uma elástica liberdade de interpretação das partes escritas para os instrumentos acompanhadores, em função, evidentemente, da execução, de certo modo irregular, imposta ao solista pelas particularidades da sua técnica. No entanto, pode deduzir-se que António da Silva Leite, ele próprio notável executante de guitarra portuguesa, se soube servir, pela primeira vez, de toda uma expressividade muito especial para mascarar aquelas insuficiências. E se, como era de esperar, não logrou conquistar para a música erudita um novo instrumento, os seus processos fizeram escola e deixaram atrás de si uma tradição de expressivos guitarristas, com o ouvido bem afeito aos rudimentos da harmonia clássica, e um certo bom gosto que sobreviveu até à primeira metade do nosso século.
Meu avô, Gonçalo Paredes, é, pode dizer-se, um representante dessa tradição. A segunda parte da sua valsa, incluída neste disco, foi-lhe acrescentada por meu pai, Artur Paredes, o original renovador da chamada guitarra de Coimbra.
São, aliás, influências de ambos, de mistura com uma propensão pessoal para o virtuosismo e o melodismo de sugestão violinística, que marcam as minhas mais antigas realizações: Movimento Perpétuo, Variações em Mi menor, Variações em Ré menor e Danças Portuguesas, da face inicial do disco.

CARLOS PAREDES (in contracapa do LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971)


Quando a ouço, estremeço todo por dentro. Atenção: sou um cristal. Posso quebrar. Esta guitarra está cheia de mistério: é uma laranja azul a crescer-me dentro do peito. E se existem deuses, eles andam, loucos, à solta pelas suas cordas de sol, de mar e de memória. Esta guitarra toca, vibra, no mais antigo de mim. E no mais futuro. De mim? De nós. Dos que nascemos aqui — à beira água, à beira mágoa, à beira sonho — há oitocentos anos. E temos um coração de povo, aflito, batendo descompassadamente sobre o lado esquerdo. Esta guitarra chamada Paredes. Esta guitarra chamada Portugal.

JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS ("Paredes é nome de guitarra", in jornal "Se7e" n.º 59, 25 Jul. 1979 – p. 10)


Carlos Paredes liberta da guitarra uma música carregada de significados, uma música na qual, como artista atento à realidade que o cerca, tenta reflectir todo um complexo conjunto de emoções e sentimentos. Não uma arte neutra, obedecendo cegamente a formalismos vazios de uma estética do inútil qualquer. Uma arte fortemente enraizada na realidade.
Nas suas mãos, a guitarra portuguesa é o «canto» da terra revolvida dentro de cada um de nós, a «voz» que nunca se calou das nossas origens — é então que, acima de Carlos Paredes, se ergue toda uma sinfonia de vivências e de experiências adquiridas, toda uma reflexão em torno de nós próprios. E, assumindo a dimensão dos criadores do humano, Carlos Paredes, humilde transmissor de todas essas emoções e sentimentos, deixa que a guitarra se desprenda das suas mãos e parta, com todos nós, à procura de nós próprios.

MÁRIO CORREIA ("Carlos Paredes: uma guitarra com voz em movimento perpétuo", in revista "Mundo da Canção, n.º 67, 30 Jun. 1985 – p. 11)


Na efeméride dos dez anos da morte de Carlos Paredes [>> biografia e discografia] damos nota positiva à TSF pela transmissão de uma reportagem feita por João Torgal, em Coimbra, na escola de música da Associação Fado ao Centro, seguida de uma das mais belas peças do genial guitarrista, "Dança dos Montanheses".
A nota negativa – muito negativa – vai para a rádio que tinha a obrigação de fazer mais e nada fez para lembrar Carlos Paredes: a Antena 1. E se o alheamento da estação de serviço público face a uma figura tão importante da música portuguesa (e mundial – não será exagero afirmá-lo) é assaz reprovável na presente efeméride, não o é menos o silenciamento de todos os dias na lista de difusão musical, vulgo 'playlist'.
Não sendo muito extenso, o repertório de Carlos Paredes está repleto de pérolas, das mais brilhantes e fascinantes que até hoje se criaram em Portugal. Aqui se apresenta, para a devida apreciação pública, um bom lote delas, algumas das quais emparceiradas com canções (ou poemas cantados, se se preferir) sobre a mesma melodia.



Variações em Si Menor



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in EP "Carlos Paredes", Alvorada, 1962; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Masterização – José António Regada, em 2003



Serenata



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in EP "Carlos Paredes", Alvorada, 1962; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Masterização – José António Regada, em 2003



Variações em Lá Menor



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in EP "Carlos Paredes", Alvorada, 1962; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Masterização – José António Regada, em 2003



Danças Portuguesas N.º 1



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in EP "Carlos Paredes", Alvorada, 1962; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Masterização – José António Regada, em 2003



Despertar (Variações)



Música: Carlos Paredes (para o filme "Verdes Anos", de Paulo Rocha, 1963)
Intérprete: Carlos Paredes* (in EP "Guitarradas Sob o Tema do Filme Verdes Anos", Alvorada, 1964; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Masterização – José António Regada, em 2003



Verdes Anos



Poema: Pedro Tamen (excerto) [texto integral >> abaixo]
Música: Carlos Paredes (introdução de "Despertar", in EP "Guitarradas Sob o Tema do Filme Verdes Anos", Alvorada, 1964; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003)
Criação: Teresa Paula Brito (in filme "Os Verdes Anos", de Paulo Rocha, 1963)
Intérprete: Teresa Paula Brito* (in EP "Canções Para Fim de Noite", Riso e Ritmo, 1968; CD "Teresa Paula Brito", col. Clássicos da Renascença, vol. 61, Movieplay, 2000)




Era o amor
que chegava e partia:
estarmos os dois
era um calor
que arrefecia
sem antes nem depois...
Era um segredo
sem ninguém para ouvir:
eram enganos
e era um medo,
a morte a rir
nos nossos verdes anos...

No nosso sangue corria
um vento de sermos sós.
Nascia a noite e era dia,
e o dia acabava em nós...

Era um segredo
sem ninguém para ouvir:
eram enganos
e era um medo,
a morte a rir
nos nossos verdes anos...


* Teresa Paula Brito – voz
Fernando Alvim – viola
Gravado no estúdio da Nacional Filmes, Lisboa



VERDES ANOS

(Pedro Tamen, da secção "Esparsos 1956-2000", in "Retábulo das Matérias (1956-2001)", Gótica, 2001 – p. 658)


Era o amor
que chegava e partia:
estarmos os dois
era um calor
que arrefecia
sem antes nem depois...
Era um segredo
sem ninguém para ouvir:
eram enganos
e era um medo,
a morte a rir
nos nossos verdes anos...

Teus olhos não eram paz,
não eram consolação.
O amor que o tempo traz
o tempo o leva na mão.

Foi o tempo que secou
a flor que ainda não era.
Como o Outono chegou
no lugar da Primavera!

No nosso sangue corria
um vento de sermos sós.
Nascia a noite e era dia,
e o dia acabava em nós...

O que em nós mal começava
não teve nome de vida:
era um beijo que se dava
numa boca já perdida.

(1963)



Raiz (Dança)



Música: Carlos Paredes (para o filme "Verdes Anos", de Paulo Rocha, 1963)
Intérprete: Carlos Paredes* (in EP "Guitarradas Sob o Tema do Filme Verdes Anos", Alvorada, 1964; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Masterização – José António Regada, em 2003



Nenhum Sonho se Entrega à Chegada



Poema: Sérgio Godinho
Música: Carlos Paredes ("Raiz", in EP "Guitarradas Sob o Tema do Filme Verdes Anos", Alvorada, 1964; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)


[instrumental]

A cidade parece-me o campo
na avenida os carros a arar
no rio e na margem passeio o tempo
contando em desembarcar
o meu corpo que ferve é por pouco tempo
a cidade é veloz a mudar
as janelas estão quase a apagar
o escuro, o calor é por pouco tempo
esfrio se for começar por nada
nenhum sonho se entrega à chegada

Acordada, eu vivi sonhando
lendo um livro que não sei ler
fecho os olhos de quando em quando
nem por sonhos vou adormecer
agarrada à raiz e ao tempo
tempo vai, tempo vem, sem se dar a ler
nem por sonhos vou adormecer

A cidade parece-me a aldeia
num só dia a igreja e o bar
à luz do néon brilha uma candeia
duas vezes a casa vou dar
promessas, promessas, uma mão-cheia
a cidade é feroz a atacar
já não é nem humano esse olhar
um lobo e um lobo e uma alcateia
mas o corpo assustado adormece
e a cidade o campo parece

Acordada, eu vivi sonhando
lendo um livro que não sei ler
fecho os olhos de quando em quando
nem por sonhos vou adormecer
agarrada à raiz e ao tempo
tempo vai, tempo vem, e o luar a ver
nem por sonhos vou adormecer

nem por sonhos vou adormecer


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



Acção (Prelúdio)



Música: Carlos Paredes (para o filme "Verdes Anos", de Paulo Rocha, 1963)
Intérprete: Carlos Paredes* (in EP "Guitarradas Sob o Tema do Filme Verdes Anos", Alvorada, 1964; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Masterização – José António Regada, em 2003



Frustração (Variações)



Música: Carlos Paredes (para o filme "Verdes Anos", de Paulo Rocha, 1963)
Intérprete: Carlos Paredes* (in EP "Guitarradas Sob o Tema do Filme Verdes Anos", Alvorada, 1964; CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963", Movieplay, 2003; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Masterização – José António Regada, em 2003



Variações em Ré Maior



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Porto Santo



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Fantasia



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)


(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Melodia N.º 1



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)


(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Melodia N.º 2



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Horas de Breu



Poema: Vasco Graça Moura (in "Mais Fados & Companhia", Lisboa: Público, 2004 – p. 92-93; "Poesia 2001/2005", Lisboa: Quetzal Editores, 2006 – p. 106-107)
Música: Carlos Paredes ("Melodia N.º 2", in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)




No dia
de eu me ir embora
não sei se chora
quem me prendeu

na hora
da despedida
a minha vida
quase morreu

agora
só corre a água
da mágoa
que amor me deu

e mora
no coração
um vão
só de breu

na rua
de madrugada
esta balada
triste gemeu

e a lua
quando tentava
ver quem cantava
viu que era eu

agora
só corre a água
da mágoa
que amor me deu

e mora
no coração
um vão
só de breu

[instrumental]

agora
só corre a água
da mágoa
que amor me deu

e mora
no coração
um vão
só de breu

[instrumental]


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



Dança



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Canção Verdes Anos



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Verdes Anos



Poema: Manuel Alegre
Música: Carlos Paredes ("Canção Verdes Anos", in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
Intérprete: João Braga* (in LP/CD "Terra de Fados", Edisom, 1990)


Verdes os anos
Verdes breves enganos
Tempo que vais
Ninguém me diz
Qual o País
Nunca mais, nunca mais

Quatro estações
Verdes breves canções
Quem dá sinal
Da nova era
Talvez Natal
Primavera, Primavera

Já uma estrela nos diz
Que outro tempo há-de ser
Dentro de nós um País
Todo o tempo é nascer

Tempo composto
De mudança e mudança
Já foi Agosto
E cá por dentro
Só a lembrança
Em Dezembro, Dezembro

Tempos que vais
Sem me dar um sinal
Não mais, não mais
Já chega alguém
Talvez Natal
Atrás de um tempo outro vem

Já uma estrela nos diz
Que outro tempo há-de ser
Dentro de nós um País
Todo o tempo é nascer

[instrumental]

Já uma estrela nos diz
Que outro tempo há-de ser
Dentro de nós um País
Todo o tempo é nascer

[instrumental]


* João Braga – voz
José Luís Nobre Costa – guitarra portuguesa
Pedro da Veiga – guitarra portuguesa
Jaime Santos Jr. – viola
Joel Pina – viola baixo
Produção – João Braga



Divertimento



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Romance N.º 1



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Romance N.º 2



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Pantomina



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Guitarra Portuguesa", Columbia/VC, 1967, 1983, reed. EMI-VC, 1987, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 1 – "Despertar", EMI-VC, 2003)


(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1966
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Era Ainda Pequenina



Letra e música: Tradicional (Beira Baixa)
Arranjo: Carlos Paredes
Intérpretes: Cecília de Melo & Carlos Paredes* (in LP "Meu País", Decca/VC, 1970; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 2 – "Na Corrente", EMI-VC, 2003)


[instrumental]

Era ainda pequenina
Acabada de nascer
Inda mal abria os olhos
Já era para te ver
Acabada de nascer

Quando eu já for velhinha
Acabada de morrer
Olha bem para os meus olhos
Sem vida inda te hão-de ver
Acabada de morrer


* Cecília de Melo – voz
Carlos Paredes – guitarra portuguesa barítono-baixo
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1970
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro



Louvor à Vida



Poemas: Carlos de Oliveira ["P.S. (Vinte e tantos anos depois)" de "Carta da Infância" + "Livre", in "Terra de Harmonia", Lisboa: Centro Bibliográfico, 1950 – p. 20 e 18; "Poesias", Lisboa: Portugália Editora, 1962]
Música: Carlos Paredes
Intérpretes: Cecília de Melo & Carlos Paredes* (in LP "Meu País", Decca/VC, 1970; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 2 – "Na Corrente", EMI-VC, 2003)


[instrumental]

Ó vida, mãe da harmonia,
em ti cabe toda a beleza,
flor aberta da tristeza,
luz desperta da alegria!
Imitando a tua morte,
donde tudo vai nascendo,
é que as estrelas morrendo
abrem as portas do dia!

Não há machado que corte
a raiz ao pensamento:
não há morte para o vento,
não há morte.

Se ao morrer o coração
morresse a luz que lhe é querida,
sem razão seria a vida,
sem razão.

Nada apaga a luz que vive
num amor, num pensamento,
porque é livre como o vento,
porque é livre.


* Cecília de Melo – voz
Carlos Paredes – guitarra portuguesa barítono-baixo
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1970
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro



Sobre um Mote de Camões



Poema: Manuel Alegre (excerto) [texto integral >> abaixo]
Música: Carlos Paredes
Intérpretes: Cecília de Melo & Carlos Paredes* (in LP "Meu País", Decca/VC, 1970; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 2 – "Na Corrente", EMI-VC, 2003)


Deixo a dor de te deixar
na terra onde amor não vive.
Na que levar levarei
amor onde só dor tive.

Nem amor pode ser livre
se não há na terra amor.
Deixo a dor de não levar
a dor de onde amor não vive.

E levo a terra que deixo
onde deixo a dor que tive.
Na que levar levarei
este amor que é livre livre.


* Cecília de Melo – voz
Carlos Paredes – guitarra portuguesa barítono-baixo
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1970
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro



SOBRE UM MOTE DE CAMÕES

(Manuel Alegre, in "Praça da Canção", Coimbra: Cancioneiro Vértice, 1965 – p. 72; "30 Anos de Poesia", prefácio de Eduardo Lourenço, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995 – p. 79)


Se me desta terra for
eu vos levarei   amor.
Nem amor deixo na terra
que deixando levarei.

Deixo a dor de te deixar
na terra onde amor não vive.
Na que levar levarei
amor onde só dor tive.

Nem amor pode ser livre
se não há na terra amor.
Deixo a dor de não levar
a dor de onde amor não vive.

E levo a terra que deixo
onde deixo a dor que tive.
Na que levar levarei
este amor que é livre livre.



Mudar de Vida – Tema



Música: Carlos Paredes (para o filme "Mudar de Vida", de Paulo Rocha, 1966)
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Tiago Velez – flauta
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Sem Saber



Poema: Vasco Graça Moura (in "Mais Fados & Companhia", Lisboa: Público, 2004 – p. 84-85; "Poesia 2001/2005", Lisboa: Quetzal Editores, 2006 – p. 101)
Música: Carlos Paredes ("Mudar de Vida – Tema", in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)




[instrumental]

Sem saber
porque te amei assim,
porque chorei por mim,

sem saber
com que punhais tu feres,
magoas mais e queres,

sem saber
onde é que estás, nem como,
o que te traz sem rumo,

[instrumental]

sem saber
se tanto amor devora
mais do que a dor que chora,

sem saber
se vais mudar, se então
podes voltar ou não,

sem saber
se em mim mudou a vida,
se em ti ficou perdida.

Sem saber
da solidão depois
no coração dos dois,

[instrumental]

sem saber
quanto me dóis na voz,
ou se há heróis em nós.


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



Trova do Emigrante



Poema: Manuel Alegre (excerto) [texto integral >> abaixo]
Música: Carlos Paredes
Intérpretes: Cecília de Melo & Carlos Paredes* (in LP "Meu País", Decca/VC, 1970; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 2 – "Na Corrente", EMI-VC, 2003)




Parte de noite e não olha
os campos que vai deixar.
Todo por dentro a abanar
como a terra em Agadir
folha a folha se desfolha
seu coração ao partir.

De sete avós segue os trilhos
de sete avós que partiram
e numa noite floriram
sete mulheres que murcharam
quando depois sete filhos
mais sete ausências deixaram.

Em vida vive-se a morte
se o trabalho não dá fruto
morre-se em cada minuto
se o fruto nunca se alcança.
Porque lhe foi dura a sorte
vai para terras de França.

Não julguem que vai contente.
Leva nos olhos o verde
dos campos onde se perde
gente que tudo lhes deu.
Parte mas fica presente
em tudo o que não colheu.

Verde campo verde e triste
em ti ceifou   hoje foi-se
em ti ceifou mas a foice
ceifava somente a esperança.
Nem sempre um homem resiste
vai para terras de França.


* Cecília de Melo – voz
Carlos Paredes – guitarra portuguesa barítono-baixo
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1970
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro



TROVA DO EMIGRANTE

(Manuel Alegre, in "Praça da Canção", Coimbra: Cancioneiro Vértice, 1965 – p. 84-87)


                  «Nós somos vida das gentes
                   E morte de nossas vidas.»
                        GIL VICENTE, Auto do Purgatório


Parte de noite e não olha
os campos que vai deixar.
Todo por dentro a abanar
como a terra em Agadir
folha a folha se desfolha
seu coração ao partir.

Não tem sede de aventura
nem quis a terra distante.
A vida o fez viajante.
Se busca terras de França
é que a sorte lhe foi dura
e um homem também se cansa.

De sete avós segue os trilhos
de sete avós que partiram
e numa noite floriram
sete mulheres que murcharam
quando depois sete filhos
mais sete ausências deixaram.

As rugas que o suor cava
não são rugas são enganos
são perdas lágrimas danos
que suar por conta alheia
não compensa nunca paga
quanto suor se semeia.

Em vida vive-se a morte
se o trabalho não dá fruto
morre-se em cada minuto
se o fruto nunca se alcança.
Porque lhe foi dura a sorte
vai para terras de França.

Não julguem que vai contente.
Leva nos olhos o verde
dos campos onde se perde
gente que tudo lhes deu.
Parte mas fica presente
em tudo o que não colheu.

Verde campo verde e triste
em ti ceifou   hoje foi-se
em ti ceifou mas a foice
ceifava somente a esperança.
Nem sempre um homem resiste
vai para terras de França.

E vem no vento um lamento
o vento canta cantigas
traz saudades (são ortigas
no peito de quem as sente).
Deixa um lamento no vento
parte mas fica presente.

Quem lhe dissesse a razão
por que é triste o campo verde
quem lhe dissesse que perde
sempre mais quem julga e crê
ser fatal a condição.
Quem lhe dissesse porquê.

Vai-se um homem vai com ele
a marca duma raiz
vai com ele a cicatriz
dum lugar que está vazio.
Leva gravada na pele
uma aldeia um campo um rio.

Andam as vidas perdidas
quando a própria terra as perde
verde campo triste e verde
onde as mágoas são sementes
e há morte dentro das vidas
que são a vida das gentes.

Ficam mulheres a chorar
por aqueles que se foram.
(Ai lágrimas que se choram
não fazem qualquer mudança.)
Já foram donos do mar
vão para terras de França.



Canção



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Tim-Tim por Tim-Tim



Poema: Vasco Graça Moura (in "Mais Fados & Companhia", Lisboa: Público, 2004 – p. 86-87; "Poesia 2001/2005", Lisboa: Quetzal Editores, 2006 – p. 102-103)
Música: Carlos Paredes ("Canção", in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)


Do rio ao mar
verde cor
branca espuma vã

não vás cuidar
minha flor
na luz de amanhã

hoje é sem par
e o sol-pôr
tem na lua a irmã

vai devagar
meu amor
feito de hortelã

como dizer
destas nuvens na sede?

como entender
o princípio e o fim?

nesta espiral
do viver
dentro da canção

há um sinal
a bater
só no coração

sangue fatal
a correr
para a solidão

e é musical
a doer
entre o sim e o não

como dizer
entre o não e o sim?

como entender
o princípio e o fim
postos dentro de mim?

postos dentro de mim
e tim-tim por tim-tim?

do rio ao mar
verde cor
branca espuma vã

não vás cuidar
minha flor
na luz de amanhã

hoje é sem par
e o sol-pôr
tem na lua a irmã

vai devagar
meu amor
feito de hortelã

[instrumental]

hoje é sem par
e o sol-pôr
tem na lua a irmã

vai devagar
meu amor
feito de hortelã


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



Meu País



Poema: Mário Gonçalves
Música: Carlos Paredes
Intérpretes: Cecília de Melo & Carlos Paredes* (in LP "Meu País", Decca/VC, 1970; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 2 – "Na Corrente", EMI-VC, 2003)


Meu país
Tão sedenta de mar e de glória
Vela altiva que aos ventos da História
Se enfunou
Onde estás meu país só memória
Que a sereia encantou?

Meu país
Que ficaste qual barco varado
A dormir esse sono pesado
Que te algema
Meu país que eu quisera beijar
Despertar num poema

Meu país
Tu que deste outros mundos ao mundo
Busca a seiva que dorme no fundo
Da raiz
Ergue ao alto a bandeira da esperança
Meu país, meu país


* Cecília de Melo – voz
Carlos Paredes – guitarra portuguesa barítono-baixo
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 1970
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro



Mudar de Vida – Música de Fundo



Música: Carlos Paredes (para o filme "Mudar de Vida", de Paulo Rocha, 1966)
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Tiago Velez – flauta
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Movimento Perpétuo



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Variações em Ré Menor



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Danças Portuguesas N.° 2



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Variações em Mi Menor



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Fantasia N.° 2



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Valsa



Música: Gonçalo Paredes e Artur Paredes; arr. Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Valsa das Sombras



Poema: Vasco Graça Moura (in "Mais Fados & Companhia", Lisboa: Público, 2004 – p. 94-95; "Poesia 2001/2005", Lisboa: Quetzal Editores, 2006 – p. 108-109)
Música: Gonçalo Paredes e Artur Paredes; arr. Carlos Paredes ("Valsa", in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)




Agora esta valsa na lenta espiral
do baile de sombras em que às vezes danças
quando a noite cai e é de pedra e cal
no espelho vazio das minhas lembranças,

agora esta valsa no avesso dos dias,
na melancolia das suas oitavas,
repete de leve nas horas sombrias
as loucas palavras que me murmuravas

agora esta valsa quando te atravessas
nesta solidão envolta num xaile
lembra-me uma a uma as tuas promessas
na luz apagada deste fim de baile

qualquer valsa agora são passos em volta,
na vida sem rumo o adeus é cruel,
galopam as nuvens deixadas à solta,
ficou-me o deserto, ainda sabe a mel

vejo o teu vulto e é muito tarde
nesta distância sem regresso
talvez a vida me acobarde
se à tua ausência eu me confesso

nem saberei o que me espera
nem que rosário de amargura
nem se é inverno a primavera
nem se este amor se fez loucura

[instrumental]

agora esta valsa na lenta espiral
do baile de sombras em que às vezes danças
quando a noite cai e é de pedra e cal
no espelho vazio das minhas lembranças,

qualquer valsa agora são passos em volta,
na vida sem rumo o adeus é cruel,
galopam as nuvens deixadas à solta,
ficou-me o deserto, ainda sabe a mel

[instrumental]

nem saberei o que me espera
nem que rosário de amargura
nem se é inverno a primavera
nem se este amor se fez loucura


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



Variações sob uma Dança Popular



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)


(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



António Marinheiro – Tema da Peça



Música: Carlos Paredes (para a peça "António Marinheiro", de Bernardo Santareno, levada à cena pela Companhia Portuguesa de Comediantes, no Teatro de São Luiz, Lisboa, em 1967)
Intérprete: Carlos Paredes* (in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, 1983, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Remasterização – Paulo Jorge Ferreira



Presságios de Alfama



Poema: Vasco Graça Moura (in "Mais Fados & Companhia", Lisboa: Público, 2004 – p. 80-81; "Poesia 2001/2005", Lisboa: Quetzal Editores, 2006 – p. 97-98)
Música: Carlos Paredes ("António Marinheiro – Tema da Peça", in LP "Movimento Perpétuo", Columbia/VC, 1971, reed. EMI-VC, 1988, 1998, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)




Névoa e partida
vaivém das vagas
luzes no mar

vela perdida
vozes pressagas
a vêm tocar

vozes pressagas
quanto agoirar

luz esquecida
como te apagas
a tremular

ó louca vida,
como naufragas
a navegar

vozes pressagas
quanto agoirar

morre a gaivota
doente
e à tua rota
vai rente
num triste trino
a chama
o teu destino,
Alfama

morte que sem olhos fita
pelo mar vem a desdita

pó de saudade,
cinzas sem lume
escuridão

e tempestade
noite e negrume
no coração

noite e negrume
no coração

às cegas vou
e não sei
quem violou
esta lei
quem poluiu
o meu linho
quem me impediu
o caminho

meu destino já marcado
erros meus que são meu fado

[instrumental]

meu destino já marcado
erros meus que são meu fado


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



O Fantoche



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in single "Balada de Coimbra / O Fantoche", Columbia/VC, 1971; CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Montagem digital e masterização – Hugo Ribeiro e Fernando Paulo



Balada de Coimbra



Música: José Elyseu, arr. Artur Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in single "Balada de Coimbra / O Fantoche", Columbia/VC, 1971; CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Montagem digital e masterização – Hugo Ribeiro e Fernando Paulo



Canção de Alcipe



Música: Afonso Correia Leite e Armando Rodrigues, para o filme "Bocage" (1936), de José Leitão de Barros; arr. Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (1971) (in CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Agosto de 1971
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Montagem digital e masterização – Hugo Ribeiro e Fernando Paulo



Canção de Alcipe



Poema: Marquesa de Alorna, adaptado por Vasco Graça Moura [texto original >> abaixo]
Música: Afonso Correia Leite e Armando Rodrigues, para o filme "Bocage" (1936), de José Leitão de Barros; arr. Carlos Paredes (grav. 1971, in CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)




Sozinha no bosque fui
com os meus tristes pensamentos,
lá calei minhas saudades,
e fiz trégua aos meus tormentos.

Olhei então para a lua
que as sombras já rasgava,
e no tremular das águas
seus raios soltava,
seus raios soltava.

Nessa torrente
da despedida
vejo, assustada,
a minha vida.

Do peito as dores
iam cessar,
voa a tristeza
torna o meu penar.

Do peito as dores
iam cessar,
tornam tristezas
a voar.

Sozinha no bosque fui
com os meus tristes pensamentos,
lá calei minhas saudades,
e fiz trégua aos meus tormentos.

Olhei então para a lua
que as sombras já rasgava,
e no tremular das águas
seus raios soltava,
seus raios soltava.

[instrumental]

Nessa torrente
da despedida
vejo, assustada,
a minha vida.

Do peito as dores
iam cessar,
voa a tristeza
torna o meu penar.

Do peito as dores
iam cessar,
tornam tristezas
a voar.

[instrumental]


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



CANTIGA

(Marquesa de Alorna, 1750-1839, in "Poetas do Século XVIII", selecção, prefácio e notas de M. Rodrigues Lapa, 3.ª edição, Lisboa: Seara Nova, 1967 – p. 103-104)


Sozinha no bosque
com meus pensamentos,
calei as saudades,
fiz trégua a tormentos.

Olhei para a lua,
que as sombras rasgava,
nas trémulas águas
seus raios soltava.

Naquela torrente
que vai despedida
encontro, assustada,
a imagem da vida.

Do peito, em que as dores
já iam cessar,
revoa a tristeza,
e torno a penar.



A Montanha e a Planície



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (1973) (in CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)


(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Abril de 1973
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Montagem digital e masterização – Hugo Ribeiro e Fernando Paulo



Dança dos Montanheses



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (1973) (in CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Abril de 1973
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Montagem digital e masterização – Hugo Ribeiro e Fernando Paulo



Dança dos Camponeses



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (1973) (in CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Abril de 1973
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Montagem digital e masterização – Hugo Ribeiro e Fernando Paulo



Os Senhores da Terra



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (1973) (in CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)


(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Abril de 1973
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Montagem digital e masterização – Hugo Ribeiro e Fernando Paulo



Em Memória de uma Camponesa Assassinada



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (1973) (in CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Abril de 1973
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Montagem digital e masterização – Hugo Ribeiro e Fernando Paulo



Sede e Morte



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (1973) (in CD "Na Corrente", EMI-VC, 1996, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 3 – "Danças", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Abril de 1973
Engenheiro de som – Hugo Ribeiro
Montagem digital e masterização – Hugo Ribeiro e Fernando Paulo



Fado Moliceiro



Poema: José Carlos Ary dos Santos
Música: Carlos Paredes
Arranjo: José Mário Branco
Intérprete: Carlos do Carmo* (in LP "Um Homem no País", Philips/Polygram, 1983, reed. Philips/Polygram, 1984, Universal, 2000, 2013; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 5 – "Improvisos", EMI-VC, 2003)




[instrumental]

Morro de amor
pelas águas da ria
esta espuma de dor
eu não sabia.

Sou moliceiro
do teu lodo fecundo
sou a Ria de Aveiro
o sal do mundo.

Vara comprida
tamanho da vida
braço de mar
a lavrar
a lavrar.

[instrumental]

Morro de amor
nesta rede que teço
e é no sal do suor
que eu aconteço.

Para além da salina
o horizonte me ensina
que há muito mar
muito mar
para lavrar!
para lavrar!


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola
Fernando Correia Martins – viola Ovation, baixo
António Serafim – oboé
Rui Cardoso – flautas
Produção e direcção musical – José Mário Branco
Gravação e mistura – José Manuel Fortes



Melodia para um Poeta



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)


(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – Tozé Brito
Gravado no Angel Studio 2, Lisboa, em 1987
Engenheiro de som – José Manuel Fortes



Coimbra e o Mondego – Variações



Música: Gonçalo Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – Tozé Brito
Gravado no Angel Studio 2, Lisboa, em 1987
Técnico de som – José Manuel Fortes



Coimbra e o Mondego – Variações A



Música: Artur Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)


(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – guitarra clássica (cordas de metal)
Produção – Tozé Brito
Gravado no Angel Studio 2, Lisboa, em 1987
Técnico de som – José Manuel Fortes



Canto do Amanhecer



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – Tozé Brito
Gravado no Angel Studio 2, Lisboa, em 1987
Técnico de som – José Manuel Fortes



Jardins de Lisboa (Verdes Anos)



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – Tozé Brito
Gravado no Angel Studio 2, Lisboa, em 1987
Técnico de som – José Manuel Fortes



Guitarra Portuguesa



Poema: Manuel Alegre (ligeiramente adaptado) [texto original >> abaixo]
Música: Carlos Paredes ("Verdes Anos")
Intérprete: José da Câmara* (in CD "Noitadas", MVM, 1999)


[instrumental]

A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra, com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com seu fio de mágoa e cimitarra.

Asa e navalha. E campo de batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua).
Pode ser fogo, pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).

[instrumental]

Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar, ei-la a subir
ei-la a voltar
de Alcácer Quibir.

Ó mão cigarra
Ó mão cigana
guitarra, guitarra
lusitana.

Ó mão cigarra
Ó mão cigana
guitarra, guitarra
lusitana.


* Mário Pacheco – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola
José Marino de Freitas – baixo acústico
Produção e arranjos – Mário Pacheco



GUITARRA
(Carlos Paredes)

(Manuel Alegre, in "Atlântico", Lisboa: Moraes Editores, 1981; "30 Anos de Poesia", prefácio de Eduardo Lourenço, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995 – p. 472)


A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com seu fio de mágoa e cimitarra.

Asa e navalha. E campo de batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua).
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).

Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar   ei-la a subir
ei-la a voltar
de Alcácer Quibir.

Ó mão cigarra
mão cigana
guitarra   guitarra
lusitana.



Canto de Rua



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – Tozé Brito
Gravado no Angel Studio 2, Lisboa, em 1987
Técnico de som – José Manuel Fortes



Canto do Rio



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – Tozé Brito
Gravado no Angel Studio 2, Lisboa, em 1987
Técnico de som – José Manuel Fortes



Canto de Embalar



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – Tozé Brito
Gravado no Angel Studio 2, Lisboa, em 1987
Técnico de som – José Manuel Fortes



Canto de Embalar



Letra: Pedro Ayres Magalhães
Música: Carlos Paredes (in LP "Concerto em Frankfurt", Philips/PolyGram, 1983; CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988)
Intérprete: Madredeus* (in 2CD "Lisboa": CD 1, EMI-VC, 1992; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 7 – "Diálogos", EMI-VC, 2003)




Alguém ouviu a sereia
Ouviu de noite cantar
Andava à noite à candeia
Andava à noite no mar

Eu fui contigo ao inferno
Fomos ao fundo do mar
Oh meu amor que eu mais amo
Deixa-me eu te embalar

Uma, duas ou três
Tantas não sei contar
Eu sei lá quantas vezes
Sai um barco p'ra o mar
Mas à noite há segredos
Deixa-me eu te embalar

Uma, duas ou três
Tantas não sei contar
Eu sei lá quantas vezes
Sai um barco p'ra o mar
Mas à noite há segredos
Deixa-me eu te embalar


* Francisco Ribeiro – violoncelo
Gabriel Gomes – acordeão
Pedro Ayres Magalhães – guitarra acústica
Rodrigo Leão – teclados
Teresa Salgueiro – voz
Convidados especiais:
Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra acústica
Gravado ao vivo no Coliseu dos Recreios, Lisboa, a 30 de Abril de 1991
Técnico de som – Amândio Bastos
Misturado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos
Engenheiro de som – Peter Woolliscroft
Masterização – Fernando Paulo Boavida
Produção – Tó Pinheiro da Silva
Supervisão – Pedro Ayres de Magalhães



Asas Sobre o Mundo



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Asas Sobre o Mundo", Philips/PolyGram, 1989; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)


(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – Tozé Brito
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos
Técnico de som – Fernando Rascão



Ah Não



Poema: Vasco Graça Moura (in "Mais Fados & Companhia", Lisboa: Público, 2004 – p. 90-91; "Poesia 2001/2005", Lisboa: Quetzal Editores, 2006 – p. 105)
Música: Carlos Paredes ("Asas Sobre o Mundo", in CD "Asas Sobre o Mundo", Philips/PolyGram, 1989)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)


Meu amor, meu amor,
foste-me sonho e pão,
foste febre e fervor,
razão e sem razão,

e sede e sabor
das manhãs de verão,
mas minha prisão,
ah não

e em tanto calor
nada foi em vão,
mas minha prisão,
ah não

[instrumental]

meu amor, meu amor,
não te peço perdão,
não te peço favor,
não te peço aversão,

não te peço dor,
nem a contrição,
nem o coração,
ah não

agora ao sol-pôr
meus olhos se vão
e não voltarão
ah não

[instrumental]

agora ao sol-pôr
meus olhos se vão
e não voltarão
ah não


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



Nas Asas da Saudade



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Asas Sobre o Mundo", Philips/PolyGram, 1989; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – Tozé Brito
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos
Técnico de som – Fernando Rascão



Lamento das Rosas Bravas



Poema: Vasco Graça Moura (in "Mais Fados & Companhia", Lisboa: Público, 2004 – p. 82-83; "Poesia 2001/2005", Lisboa: Quetzal Editores, 2006 – p. 99-100)
Música: Carlos Paredes ("Nas Asas da Saudade", in CD "Asas Sobre o Mundo", Philips/PolyGram, 1989)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)




Asas de um lenço
no azul imenso
ave que vai voar
nave no alto mar

agora que partiste
fica onde moravas
esta valsinha triste
entre as rosas bravas

e no fim
do lamento
no jardim
sopra o vento

vida assim
desolada,
névoa em mim,
sombras, nada.

Vem à toa
a saudade
e magoa
e vibra no meu peito,
chega e parte
a chamar-te
meu amor, ó meu amor perfeito

e se um dia nalgum voo repentino
a saudade for nas asas do destino
vai correr mundo
e levar o coração
vagabundo
à tua mão

[instrumental]

agora que partiste
fica onde moravas
esta valsinha triste
entre as rosas bravas

e no fim
do lamento
no jardim
sopra o vento

vida assim
desolada,
névoa em mim,
sombras, nada.

[instrumental]

Asas de um lenço
no azul imenso
ave que vai voar
nave no alto mar


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



Uma Canção para Minha Mãe



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Canção para Titi: Os Inéditos de 1993", EMI-VC, 2000; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 8 – "Memórias", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – António Avelar Pinho
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Julho de 1993
Técnico de som – Hugo Ribeiro
Misturado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 2000, por Artur David
Masterização – Paulo Jorge Ferreira



Canção para Titi



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Canção para Titi: Os Inéditos de 1993", EMI-VC, 2000; Livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 8 – "Memórias", EMI-VC, 2003)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)
Produção – António Avelar Pinho
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Julho de 1993
Técnico de som – Hugo Ribeiro
Misturado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Outubro de 2000, por Artur David
Masterização – Paulo Jorge Ferreira



Tia Minha Gentil



Poema: Vasco Graça Moura (in "Mais Fados & Companhia", Lisboa: Público, 2004 – p. 88-89; "Poesia 2001/2005", Lisboa: Quetzal Editores, 2006 – p. 104)
Música: Carlos Paredes ("Canção para Titi", in CD "Canção para Titi: Os Inéditos de 1993", EMI-VC, 2000)
Intérprete: Mísia* (in CD "Canto", Warner Jazz France, 2003)


[instrumental]

Tia minha
tão gentil que me educaste,
da minha vida adivinha
o que sempre adivinhaste

tia minha,
que em menino me cuidaste,
e da manhã à tardinha,
eras flor curvando a haste

tia minha,
em pequeno acompanhaste
tu sozinha, tu sozinha,
tanta dor que dissipaste

tia minha,
cresci, sofri, que contraste,
tia minha vem asinha,
saber como me lembraste

tia minha,
por muito que a vida arraste,
se eras outra mãe que eu tinha,
mãe como ela ficaste

tia minha,
não mereces que te baste
esta guitarra à noitinha:
meu coração escutaste

tia minha,
que em menino me cuidaste,
e da manhã à tardinha,
eras flor curvando a haste

tia minha,
em pequeno acompanhaste
tu sozinha, tu sozinha,
tanta dor que dissipaste

[instrumental]

tia minha,
não mereces que te baste
esta guitarra à noitinha:
meu coração escutaste


* Mísia – voz
Manuel Rocha – violino
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado
Quinteto de cordas oriundo da "Camerata de Bourgogne":
Jean-François Corvaisier – 1.º violino
Leurent Lagarde – violoncelo
Alain Pelissier – violeta
Valérie Pelissier – violeta
Pierre Sylvan – contrabaixo
Arranjos e direcção musical – Henri Agnel
Direcção do projecto – Pascal Bussy / Warner Jazz France
Produção executiva – Igor Szabason / IS Music
Assistente – Laurence Gilles
Gravado no Studio Gam, Waimes (Bélgica), em Junho de 2003
Engenheiro de som – Silvio Soave
Misturas – Silvio Soave, no CATI Audio, Roman (França)



Carlos Paredes, escultura em barro policromado (adquirida nas Caldas da Rainha), colecção de Nuno Siqueira
Fotografia – Soraia Simões ("Mural Sonoro")



Capa do EP "Carlos Paredes" (Alvorada, 1962)



Capa do EP "Guitarradas Sob o Tema do Filme Verdes Anos" (Alvorada, 1964)



Capa do LP "Guitarra Portuguesa" (Columbia/VC, 1967)
Fotografia – Augusto Cabrita



Capa do LP "Movimento Perpétuo" (Columbia/VC, 1971)
Fotografia – Augusto Cabrita



Capa do single "Balada de Coimbra / O Fantoche" (Columbia/VC, 1971)
Fotografia – Augusto Cabrita



Capa do LP "Meister der Portugiesischen Gitarre" (Amiga/RDA, 1977)



Capa do LP "Concerto em Frankfurt" (Philips/PolyGram, 1983)



Capa do LP "Invenções Livres" (Philips/PolyGram, 1986)
Fotografia – José Rúbio



Capa do LP "Espelho de Sons" (Philips/PolyGram, 1988)
Desenho – Carlos Martins Pereira



Capa do CD "Asas Sobre o Mundo" (Philips/PolyGram, 1989)



Capa do CD "Dialogues" (Polydor, 1990)



Capa do CD "Na Corrente" (EMI-VC, 1996)
Fotografia – Augusto Cabrita



Capa do CD "Canção para Titi: Os Inéditos de 1993" (EMI-VC, 2000)



Capa do CD "Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963" (Movieplay, 2003)



Capa da edição "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993" (Livro/8CD, EMI-VC, 2003)