04 outubro 2013

Antena 2: uma miséria de rádio



Perante a imposição de Alberto da Ponte (presidente do conselho de administração da Rádio e Televisão de Portugal) de reduzir ainda mais o orçamento do sector rádio, António Luís Marinho (director-geral de conteúdos) e Rui Pêgo (director de programas das Antenas 1, 2 e 3) não estiveram com meias medidas e voltaram a escolher a Antena 2 para arcar com o sacrifício. Assim, e prosseguindo a operação de aniquilação realizada no início do ano (cf. "Antena 2: uma pobreza de rádio"), a 'rentrée' ficou tristemente assinalada com a eliminação de quase todos os programas de autor que restavam, dos quais destaco como perdas mais significativas: "Em Sintonia com António Cartaxo", "Matrizes" (de Rui Vieira Nery) e "Véu Diáfano" (de Pedro Amaral). Foi, no entanto, poupada – pasme-se! – a verruga que dá pelo nome de "Fuga da Arte". E também não foi extirpado o quisto chamado "Quinta Essência". Não que eu seja contra a existência de programas de entrevista na Antena 2, se feitos com profissionalismo e proficiência, qualidades arredias ao pretenso entrevistador, que tão insuportavelmente leviano e ignorante em múltiplos assuntos se tem revelado (em matéria de entrevistas, prefiro mil vezes as conduzidas por Luís Caetano no seu imperdível "A Força das Coisas").
Será que para o consórcio Marinho & Pêgo as verrugas e os quistos são mais importantes do que os músculos? Pois é! A Antena 2 já praticamente não tem massa muscular, reduzida que está a pele e osso (pele verrugosa e quistosa cobrindo um esqueleto deformado por raquitismo e osteoporose), de tão maltratada e martirizada que tem sido às mãos de indivíduos desprovidos de formação, sensibilidade e vocação para lidarem com uma rádio de cultura. A bem dizer, a Antena 2 é hoje pouco mais que uma vulgar estação toca-discos, ainda com a agravante da música que é debitada não ter qualquer arrumação por género, estilo ou época. Enfim, uma espécie de 'jukebox' de música variada, no erróneo pressuposto de que assim se corresponde simultaneamente a todas as sensibilidades, mas que, em boa verdade, acaba por não satisfazer plenamente ninguém. Não cativa nem proporciona efectivo enriquecimento a quem deseje cultivar-se na música erudita (pois falta a contextualização histórica e estética) e defrauda de sobremaneira os públicos mais selectos e diferenciados. Porque é de públicos que verdadeiramente falamos e não de uma massa amorfa disposta a papar tudo o que sai na rifa.
Mas se a Antena 2 é obrigada a viver (ou a sobreviver, melhor dizendo) num deplorável estado de indigência e miséria, a irmã Antena 1, ainda que de estrato cultural inferior, continua pródiga e a alimentar uma vasta clientela de colaboradores externos, muitos deles perfeitamente dispensáveis. E, como se isso não bastasse, também não tem faltado dinheiro para abundantes viagens ao estrangeiro – não só de jornalistas como de locutores –, a pretexto de tudo e de nada. Veneza, Paris, Nova York, Timor...
«Quem disse que a contribuição do audiovisual serve para proporcionar aos cidadãos cultura e saber? Isso são romantismos de idealistas! Preciso é entreter e distrair o povo! Com circo... mas sem pão porque esse é para nós!»

1 comentário:

M* disse...

Concordo. E é muito triste ter ouvido podcasts mais antigos e outros de 2016 e verificar que são cometidos os mesmos erros durante as entrevistas, o que aborrece profundamente.