11 novembro 2008

Promoção à RTP-1 na Antena 2

A par dos já costumeiros e massacrantes 'sopts' autopromocionais e de outro lixo sonoro que Rui Pêgo introduziu na Antena 2, recentemente começaram também a passar 'spots' de promoção à programação da RTP-1. Embora a minha audição da Antena 2, pelas múltiplas razões já anteriormente enunciadas, não seja hoje tão assídua e regular como há uns anos, já lá ouvi três dos tais 'sopts': um ao programa de Catarina Furtado, "A Minha Geração", outro ao "Prós e Contras", de Fátima Campos Ferreira, e um terceiro aos jogos de futebol da I Liga, aquele onde o Jorge Gabriel surge a interpelar, em jeito de desafio, algumas das caras do canal – o José Rodrigues dos Santos, a Judite de Sousa, e também a desinteressante e acéfala Sílvia Alberto e os anafados mas culturalmente indigentes Fernando Mendes e José Malato. Numa primeira e genérica apreciação, e atendendo a que a RTP-1 pertence do mesmo grupo empresarial, a Rádio e Televisão de Portugal, poder-se-ia encarar como razoável a sua promoção nas rádios do grupo (como sucede, por exemplo, com as telenovelas da TVI nas ondas do RCP e da Rádio Comercial). Acontece que tal promoção, no caso concreto da Antena 2 levanta alguns problemas que não devem ser ignorados. Em primeiro lugar, promover na Antena 2 um canal de televisão com uma programação de cariz ligeiro e destinada a um público culturalmente pouco exigente, como é o caso da RTP-1, não pode deixar de soar a bizarro. Será que quem costuma alimentar o seu espírito com Bach, Beethoven, Schubert ou Mahler é o público-alvo para as futeboladas, os programas de música pop e de variedades (como o anunciado "A Minha Geração"), e outras coisas absolutamente rascas como "O Preço Certo", "Os Contemporâneos", o "Tele-Rural" e a "Liga dos Últimos" (isto para já não falar nas touradas e nos concertos do plagiador Tony Carreira)? É óbvio que não, pela clara e notória desadequação existente entre a natureza do que se anuncia e o nível cultural e de gosto do público ao qual se faz chegar a mensagem. Tal desadequação não será tão flagrante na Antena 1 mas ainda assim, e mesmo havendo reciprocidade no tocante à promoção, há outra questão em que importa atentar. A RTP-1 é um canal com publicidade comercial coisa que, por tradição e por determinação legal, não acontece na Antena 1 e nas demais antenas da rádio pública. Será pois correcto e eticamente aceitável que em canais que não têm publicidade se promova um outro que a tem, ainda que integrando a mesma entidade empresarial? Não estaremos em presença de uma forma ardilosa e abusiva de angariar audiências para a publicidade comercial? Para a que passa nos intervalos dos programas e também – convém não esquecer – para a estática dos estádios de futebol, estrategicamente colocada nos pontos mais focados pelas câmaras. Por conseguinte, a existir promoção de canais de televisão na Antena 2 isso teria de ser logicamente da RTP-2, por um lado, pela maior proximidade cultural e de conteúdos, e, por outro, por não ter publicidade comercial mas institucional (por vezes, não é bem assim... mas adiante!). Pessoalmente, até nem apresentaria nenhuma objecção se na Antena 2 se sugerisse programas como o "Câmara Clara" ou o "Biosfera", documentários sobre escritores e artistas, e sobretudo transmissões de ópera, bailado e teatro. Em todo caso, em vez de encaminhar os seus ouvintes para a televisão, o normal e plausível seria a Antena 2 oferecer um serviço tão cativante e aliciante que não suscitasse em quem a ela recorre a vontade de ir à procura da televisão. Enquanto radiófilo, e embora sem qualquer aversão à televisão (apenas à mediocridade nela veiculada), nunca aceitarei atitudes que mais não são que a aceitação tácita de que a rádio é um meio menor e que se alguma função ainda tem é promover (prejudicando-se a si mesma) o elo mais forte. Já agora, alguém me esclarece uma dúvida: de quem partiu a ideia estrambólica de promover a RTP-1 na Antena 2? Do inepto (mas principescamente pago) Rui Pêgo ou do seu comparsa no conselho de administração, António Luís Marinho?

1 comentário:

Pedro Coelho disse...

O elitismo, preconceito e desconhecimento patentes nos seus comentários e textos chegam a roçar o ridículo. E já que refere "Os Contemporâneos", programa humorístico de elevada qualidade, o senhor faz realmente lembrar uma das personagens desse programa: "O Chato".

Sim, O Chato, em primeiro lugar porque é isso mesmo, chato, aborrecido, cheio de opiniões cinzentas, poeirentas, amareladas e bafientas. Em segundo porque faz parte daqueles senhores denominados "Velhos do Restelo", que passam a vida na crítica, no corte, que têm pouco de visão e de abrangência.

O serviço público é para o público, geral. E a RTP1 tem, dentro da sua programação, programas generalistas e programas de índole mais cultural, que, curiosamente, são os de mais reduzida audiência. Penso que para a sobrevivência e rentabilidade de um canal, e até para cumprir a sua função, este tem de ter público. A RTP2, por seu turno, tem um papel mais conciliador da cultura de massas e da cultura enquanto componente mais restrito e erudito, e é por isso que, aliás, existem dois canais públicos, para cumprirem papéis diferentes. Mas não é aceitável a crítica gratuita e infundada a alguma da programação da RTP1 que foi feita por si no habitual estilo "Detentor da Verdade".

É essencial, por parte dos inteligentes, a abertura a todo o tipo de opiniões e correntes culturais. É essencial ainda a compreensão dos gostos e preferências de cada um, com o óbvio questionamento da qualidade e da razão, mas com uma crítica baseada em argumentos e acima de tudo, em experimentação. É impossível fazer uma crítica correcta e justa sem termos conhecimento de causa, certo?

De gente que fala de cor, estamos todos fartos.