21 agosto 2006

Espaços musicais de Verão na Antena 1: mau serviço público

Exmo. Sr. Provedor do Ouvinte da Rádio Pública,

Na sequência da
reclamação que lhe apresentei sobre a vergonhosa situação da música portuguesa na 'playlist' da Antena 1, achei que seria oportuno dar-lhe também conta da minha profunda insatisfação relativamente aos espaços musicais de Verão, actualmente no ar. Aproveitando o período de férias de alguns autores/realizadores, a direcção de programas resolveu preencher esses vazios com alargados espaços musicais destacando para os apresentar determinados locutores – os habituais e outros que não é costume assegurarem a emissão de continuidade. Até aqui tudo normal, embora eu pense que a programação de Verão deva ser algo mais do que apenas música. Mas o que me leva, uma vez mais, a recorrer ao Sr. Provedor, é a falta de eclectismo e a baixa qualidade da generalidade dos conteúdos musicais desses espaços. Eu preferia que houvesse espaços diferenciados para cada estilo ou área musical mas como a direcção optou por espaços generalistas, eu não posso deixar de me insurgir justamente contra o monolitismo medíocre que os caracteriza. Efectivamente, esses espaços supostamente generalistas, na verdade não o são porque deixam de fora várias áreas musicais que deviam ter presença garantida no serviço público, designadamente a música popular portuguesa, o fado e a música latina (fora da estética pop). Até a música anglo-americana (actual e passada) que é escolhida está longe de ser a melhor. Desconheço se a escolha da música desses alinhamentos está a cargo do chefe de 'playlist', Rui Santos (agora também ele apresentador), ou se são os locutores de cada espaço que seleccionam a música que apresentam, em obediência a bitolas e instruções ditadas pela direcção de programas. Em qualquer dos casos, a música que tem sido transmitida não difere muito da que vem sendo debitada pela 'playlist' nos últimos tempos. É verdade que foram introduzidos mais temas, mas constata-se que o critério de escolha continua a ser o mesmo: a música pop de cariz mais comercial e estranhamente (ou talvez não) incidindo nos nomes do costume que são, inclusive, repetidos de espaço para espaço (foi o caso de Madonna ontem de manhã, por exemplo). Se no tocante aos artistas portugueses e lusófonos a situação de favorecimento de uns e marginalização/boicote de outros se mantém, a música anglo-americana que há meses registara uma ligeira melhoria voltou a piorar. Com efeito, a maior parte da música britânica e norte-americana que nos é dado ouvir é da mais banal e medíocre, o que não se compreende por haver tanta e boa música em língua inglesa (e também instrumental). A propósito, abro aqui um parêntesis para manifestar o meu descontentamento pelo facto da rádio pública (no conjunto das três antenas nacionais) estar a descurar a música instrumental que não se enquadra nos registos clássico/erudito, jazz ou étnico. Assinalo o programa "Argonauta", de Jorge Carnaxide, dedicado à música electrónica de ambientes ("música para relaxar a mente"), mas faz falta um espaço que contemplasse outras estéticas de música instrumental. Voltando aos espaços musicais de Verão da Antena 1, não vou ao ponto de dizer que toda a música pop seja de deitar fora, mas é indubitável que a maioria da que prolifera na Antena 1 se conta entre a pior que se podia escolher. Isto pode ser uma opinião pessoal, mas tenho a certeza de que há muita gente a partilhar o meu ponto de vista. Por exemplo, alguém me consegue explicar por que razão a Antena 1 despreza quase por completo a melhor música anglo-americana dos anos 60 e 70? Música que eu não tive oportunidade de ouvir no tempo em que foi feita (por incontornável desfasamento temporal) mas que tenho vindo a descobrir e que considero muito superior a muita que se produziu depois. Não cumpriria ao serviço público divulgar essa música (os 'hits' e também os temas menos conhecidos), não só a pensar nos ouvintes cuja juventude coincidiu com a época em que tal música foi criada mas também para que os ouvintes mais novos tivessem oportunidade de a conhecer, alargando assim os seus horizontes além dos produtos hoje em voga? Por acaso, até existe um programa de autor chamado "Ondas Luisianas", agora também em edição vespertina ao sábado, que podia desempenhar um importante papel nesse propósito. Infelizmente, Luís Filipe Barros teima em passar quase exclusivamente o pop/rock mais comercial dos anos 80 e em dar pouca atenção aos anos 60 e 70, ignorando quase por completo o 'blues rock' e o rock progressivo. Já me dei ao cuidado de lhe escrever sobre o assunto mas, lamentavelmente, fez ouvidos de mercador. Luís Filipe Barros já mostrou que é capaz de fazer muito melhor, pelo que ponho a hipótese de ele estar a cumprir ordens vindas de cima no sentido de privilegiar os anos 80. É pena!
Penso que época estival podia ser uma excelente altura para dar aos ouvintes coisas diferentes do corriqueiro pop mainstream e que lhes refrescassem a cabeça. A rádio não serve apenas para dar às pessoas o que elas já conhecem e de que eventualmente já estão fartas; serve também para abrir caminhos e possibilitar a descoberta, porque insistir sempre no mesmo e no mais batido além de ser empobrecedor representa mau serviço público. E, neste âmbito, volto a chamar a atenção para a total e criminosa ausência da música popular portuguesa nos espaços musicais do presente Verão. Será que quem escolhe a música, acha que essa área musical não é apropriada para se ouvir no tempo do calor? Parece que sim! Mas eu permito-me discordar em absoluto dessa opinião. A propósito, não seria totalmente lógico que os horários dos programas "Lugar ao Sul" e "Passeio Público" fossem preenchidos com música popular portuguesa (tradicional e de autor), de modo a corresponder ao gosto do auditório fiel desses programas? É uma sugestão que deixo para o próximo Verão, isto claro está, sem prejuízo de serem entretanto criados mais programas/espaços dedicados à música popular portuguesa e ao fado, não esquecendo a necessária e urgente correcção da situação de marginalização/boicote destas importantes áreas da nossa música na 'playlist'. Os muitos ouvintes da Antena 1 que apreciam a música mais autêntica de Portugal ficam na expectativa de que as suas justas pretensões sejam atendidas.
Com os mais respeitosos cumprimentos,

Álvaro José Ferreira


P.S. : Se a direcção da Antena 1 quiser, eu estou disponível para enviar graciosamente uma lista de intérpretes/músicas, designadamente de música portuguesa e anglo-americana, como propostas para a 'playlist'.

19 agosto 2006

Juntar música com Informação na Antena 2?

Comentando a entrevista de Rui Pego ao Diário de Notícias, sobre a nova Grelha da Antena 2, Rogério Santos deixa duas interrogações:

"(...) juntar música com informação, de modo ao estúdio ter agora um terminal de notícias, será bom? Não basta a Antena 1 com notícias repetidas de meia em meia hora, e com informação continuada e redundante de trânsito (...)?"

14 agosto 2006

Audiências de rádio: o debate está lançado!

Positivo foi o esforço de relançar o debate acerca do modo anómalo como são efectuados os estudos de audiência do medium rádio. De diversos blogs vieram desafios e contributos. Clique nos links para perceber o âmbito e o alcance das diversas intervenções:

Vale a pena passar por um conjunto de textos acerca da mediação de audiências de rádio. Todos eles críticos face ao modelo ainda adoptado em Portugal e que, de facto, levanta algumas questões. - Rádio e Jornalismo

Mas poderão os indicadores apontados por este sistema estar longe da realidade? Muitos respondem “sim” a esta pergunta, porque, na era da mobilidade (telemóvel, Internet sem fios, etc.), a Marktest ainda faz os inquéritos através do telefone fixo. - A Rádio em Portugal

Mais uma vez insisto na ideia de que é precisa uma nova metodologia na análise das audiências de rádio, porque esta (a das entrevistas telefónicas feitas para casa dos hipotéticos ouvintes, com base na memória do dia anterior) já deu o que tinha a dar. - Blogouve-se

Há um ponto fundamental: as empresas de radiodifusão não têm dinheiro para pagar um modo mais moderno de medir audiências, alargando a amostra e fazendo a medição diária. - Indústrias Culturais

Enquanto as audiências de rádio (e de tudo o resto, diga-se de passagem...) não forem feitas por concurso público, aberto, para um período que pode ser até três anos, a vergonha continuará. Os monopólios têm destes problemas... - António Granado

Quando (nos finais dos anos 90) a Radiodifusão Portuguesa se desvinculou do estudo da Marktest, agiu de forma acertada e correcta. Seria uma farsa (para não dizer uma burla) pactuar com um arremedo de estudo estatístico que enferma de vício que deturpam totalmente os resultados. - A Nossa Rádio

Será que alguém vai aceitar o repto lançado pelo João Paulo Menezes:

Nas redacções não há ninguém disponível para fazer um trabalho sobre a questão das audiências analógicas feitas pela Marktest?

07 agosto 2006

Estes estudos de audiência têm alguma validade???

Antes de mais, permitam-me dois lugares comuns:

* A Rádio de Serviço Público não deve ser refém dos níveis de audiência, mas a sua principal preocupação tem de assentar no efectivo (e cabal) cumprimento das suas obrigações de Serviço Público;

* Mas, como só existe Serviço Público se existirem destinatários e consumidores desse Serviço, a Rádio de Serviço Público tem de assegurar uma eficaz difusão e níveis de adesão que garantam a validade e a utilidade do Serviço prestado.

Dito isto, passemos à questão dos estudos de audiência do meio rádio e do modo como são efectuados.

Tenho sistematicamente vindo a defender (e a escrever) que o estudo que trimestralmente é divulgado sobre as audiências da Rádio não dispõe de qualquer credibilidade científica ou técnica.
Nem me vou preocupar sequer com o modo de formulação das questões que dele constam (pensado já para responder às necessidades das centrais de publicidade e favorecendo as rádios que veiculam mensagens publicitárias), mas vou ater-me, tão-somente, ou modo como é efectuada a recolha dos dados.

Quando (nos finais dos anos 90) a Radiodifusão Portuguesa se desvinculou do estudo da Marktest, agiu de forma acertada e correcta. Seria uma farsa (para não dizer uma burla) pactuar com um arremedo de estudo estatístico que enferma de vícios que deturpam totalmente os resultados. Fiquemos pelos mais importantes:

  • A definição da amostra (manifestamente insuficiente) ;
  • O modo como é efectuada a recolha dos dados (inquéritos telefónicos para telefones da rede fixa).

Nessa altura, a RDP pagou caro uma atitude que, sendo corajosa, deveria ter sido louvada e acarinhada: Buscava (em cooperação com outras rádios) avançar para a implementação de modos de análise da audiência do meio rádio mais rigorosos e passíveis de validação científica e técnica.
Nesse sentido foram dados passos junto de sectores universitários com trabalho desenvolvido na esfera da investigação dos consumos e do mercado das mensagens. O Resultado imediato saldou-se no seu quase imediato desaparecimento (assassinato???) no que aos números da Marktest dizia respeito.
E a RDP passou a apresentar níveis quase residuais de audiência.

Foi com a chegada da nova administração da RDP (nomeada por Morais Sarmento), e com a necessidade urgente de apresentar (a qualquer preço) números de subidas de audiências, que o operador público negociou o seu regresso à Marktest – pretendendo credibilizar aquilo que já não tinha crédito nenhum. Porque, se as reservas que a RDP formulara em 1998 tinham toda a razão de ser, em 2002 estavam mais do que comprovadas:

  • O número de telemóveis aumentara exponencialmente;
  • O número de utilizadores da rede fixa sofrera um rombo gigantesco;
  • Os escalões etários abaixo dos 35 anos quase só já utilizavam os serviços de redes móveis.

Mas como Morais Sarmento precisava de números favoráveis...

Assim, chegámos à realidade dos dias de hoje... com o meio rádio a não dispor de indicadores fiáveis e seguros para questionar a sua actividade e a eficácia de opções e estratégias.

E ninguém acredita já naqueles números da Marktest.

  • NOTA DE RODAPÉ:
    Apesar do que já atrás se afirmou acerca da "pulverização" dos resultados da RDP (a partir do momento em que ela teve a ousadia de abandonar o estudo da Marktest) e apesar de o (então) director de Programas da Antena 1 ter saido da RDP e aquela estação ter ficado seis meses sem Direcção, na
    3ª Vaga de 2002 (Outubro) a Antena 1 surgia em 5º lugar, à frente da TSF. Nos resultados agora divulgados surge em 6º, atrás da TSF.

Outubro de 2002

Agosto de 2006

1º - R. Renascença
2º - RFM
3º - Rádio Comercial
4º - Cidade FM
5º - Antena 1
6º - TSF/Press

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2º - R. Renascença
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6º - Antena 1