24 março 2006

Provedor do ouvinte da rádio pública

De acordo com notícia divulgada esta semana, José Nuno Martins, conhecido realizador de rádio e de televisão, foi a pessoa escolhida para ocupar o cargo de provedor do ouvinte da rádio pública, figura criada pelo actual Governo. Os jornais de referência há muito que têm o provedor do leitor, pelo que a medida de adoptar a figura do ombudsman nos serviços públicos de rádio e de televisão só peca por tardia. A pessoa em causa não me suscita qualquer objecção atendendo ao seu meritório percurso profissional e por se tratar de alguém que tem uma perspectiva humanista da função da rádio. Não obstante, temo que o facto de José Nuno Martins ter um vínculo contratual com a RDP para a qual realiza o programa "O Amigo da Música" e a rubrica "Os Reis da Rádio" possa afectar a sua isenção e de algum modo condicionar a sua acção como defensor dos ouvintes junto da própria entidade patronal. Eu gostava que a circunstância de ser um homem da rádio, longe de ser um óbice, se torne uma vantagem e que o facto de ser um profissional respeitado pelas cúpulas da RDP e pelos seus pares possa facilitar as coisas. Seria muito mau se a solidariedade corporativa e eventuais cumplicidades com pessoas do mesmo ofício propiciassem a condescendência e a contemporização com determinadas condutas e procedimentos inadequados ou menos correctos. Por isso, faço votos para que José Nuno Martins, embora não se abstraindo totalmente do seu métier de radialista, se coloque sobretudo na posição dos destinatários do serviço de rádio. Eu, ouvinte atento e empenhado na melhoria da rádio pública, fico na expectativa de que O AMIGO DA MÚSICA se consiga afirmar como um mediador credível entre os ouvintes e a direcção/administração da RDP. O pior que podia acontecer seria o provedor não passar de mera figura simbólica e burocrática que existe porque está consignada na lei mas sem uma real eficácia na resolução dos problemas apresentados pelos ouvintes. E presumo que José Nuno Martins, ao aceitar o convite para o lugar, tivesse colocado como condição não ficar reduzido a uma figura de cera que fica bem no retrato mas sem qualquer outra utilidade. Nessa medida, só me resta desejar a José Nuno Martins as maiores venturas como provedor do ouvinte e que o cargo possa sair prestigiado com o seu magistério.

22 março 2006

José Ramos: um rei da rádio que nos deixou



Foi com pesar que ontem recebi a notícia da morte de José Ramos, uma das vozes mais carismáticas da nossa rádio e bastante familiar aos telespectadores da SIC. A rádio fica indubitavelmente mais pobre. Mas ao contrário de outras circunstâncias em que se recorre a este lugar-comum apenas porque é de bom tom, no caso de José Ramos (na foto) ele faz todo o sentido porque era um homem na força da vida e que ainda tinha muito para dar. Apreciei a sentida homenagem que Rui Pêgo lhe fez hoje de manhã em "Os Reis da Rádio", rubrica que contava com a sua preciosa colaboração. E também apreciei que Luís Caetano no seu "Um Certo Olhar" tivesse recuperado uma das crónicas em que ele abordou um tema crucial da nossa rádio: a degradação que ela sofreu nos últimos tempos com o afastamento de eméritos profissionais para dar lugar às 'playlists' formatadas por uns rapazes incultos que nada mais fizeram do que afastar milhares e milhares de ouvintes. Enquanto radiófilo e apreciador de belas vozes ainda não perdi a esperança que a rádio venha a recuperar o calor humano de que foi despojada, pois só assim ela se poderá reconciliar com os ouvintes que a abandonaram.

Nota: Recomendo a leitura do texto que Paula Cordeiro escreveu a propósito no blogue "NetFM".

A poesia é para todos os dias

Não podia deixar de felicitar a direcção da Antena 1 por, no Dia Mundial da Poesia, ter tomado a louvável iniciativa de dar oportunidade a poetas novos de dizerem os seus próprios poemas. Congratulo-me que sob a direcção de Rui Pêgo a rádio pública esteja mais atenta ao calendário do que esteve durante o consulado do seu antecessor. Aconteceu agora com a poesia, mas já havia reparado que não foi deixado passar em vão o dia em que passaram 19 anos sobre a morte de José Afonso. Já tive a oportunidade de aqui abordar a situação de penúria de poesia que se verifica nas actuais grelhas da rádio pública, pelo que acolhi com regozijo a iniciativa. Agora só espero é que a direcção da RDP não se restrinja a assinalar uma data e no resto do ano tratar a poesia como um parente pobre no serviço público. Pessoalmente, não levo muito a sério os dias disto e daquilo porque reparo que os mesmos são aproveitados pelos vários poderes para comemorações de circunstância e depois tudo regressa ao mesmo. São datas que as instituições utilizam porque é politicamente correcto e, no fundo, para salvarem a face pelo que não fazem nos restantes 364 dias do ano. A poesia é para qualquer dia, é para quando nos apetecer, sendo que se torna irrelevante que alguém tenha escolhido o 21 de Março para o seu dia. O importante é que haja uma filosofia consistente e continuada no cultivo da poesia (e das outras artes) ao longo do ano. Porque a poesia faz parte da nossa vida e ficamos mais pobres se nos limitarmos a dar-lhe atenção apenas no dia em que começa a Primavera. «Ó subalimentados do sonho! a poesia é para comer.», dizia a grande Natália Correia. Presumo que Rui Pêgo não goste de ser chamado de “subalimentado do sonho” e, como tal, espero que tenha o bom senso e o bom gosto de dar à poesia (e ao teatro) uma presença digna na rádio pública. Por exemplo, por que motivo a excelente rubrica "Os Sons Férteis", da Antena 2, não é repetida em vários momentos do dia, em vez de passar unicamente às 11 horas da manhã? Isto, claro está, sem prejuízo de voltar à antena um espaço semanal mais alargado como o que foi feito até meados de 2005 pela jornalista Alexandra Lucas Coelho.

20 março 2006

"Café Plaza": viagem às músicas do passado


Realizado e apresentado pelo jornalista Germano Campos, "Café Plaza" é um espaço que dedicado às músicas do passado, ou melhor, às músicas de sempre mas com a particularidade de terem sido criadas antes dos anos 70. No programa podemos ouvir as canções e os temas instrumentais que fizeram as delícias de quem viveu no período áureo da rádio e do cinema, remontando à época dos discos de 78 rotações que se punham a rodar em grafonolas roufenhas movidas à manivela. Esse tempo passou mas as músicas ficaram, e graças aos avanços da tecnologia as gravações remasterizadas podem hoje ser ouvidas com uma qualidade surpreendente. Os discófilos e os amantes da música sabem que o melhor aferidor da qualidade de uma peça musical é ela resistir à passagem do tempo. E é justamente os temas que apesar de tantos anos volvidos ainda continuam a fascinar não só aqueles que as ouviram na primavera da vida mas também muita gente das gerações posteriores, que Germano Campos recupera no seu programa. É bem verdade que a boa música não tem idade, é como os diamantes que não sofrem a erosão do tempo. Da minha experiência enquanto ouvinte assíduo do "Café Plaza" tenho-o constatado e posso até testemunhar que peças que foram êxitos nos anos 70 são hoje inaudíveis, coisa que não acontece com boa parte das criações dos anos 40 e 50. Alguns poderão dizer que isso resulta da evolução do gosto ao longo das épocas. Não negando existir uma ponta de verdade nesse argumento creio que há algo de mais profundo e essencial que confere carácter intemporal a uma determinada peça musical. Tal como Bach que não duvido irá perdurar até ao fim da Humanidade, também estou em crer que alguma da música popular que se fez no século XX vai continuar a ser apreciada durante muitas décadas e constituir uma referência para muitos vindouros. Nomes como Bing Crosby, Frank Sinatra, Dean Martin, Barry James, Benny Goodman, Glenn Miller, Nat King Cole, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald e Doris Day têm acesso privilegiado ao "Café Plaza" mas as portas não estão fechadas à música latina, designadamente a francesa, a hispano-americana e a brasileira. Aliás, as efemérides de figuras importantes da música, do cinema e do teatro, são sempre devidamente assinaladas por Germano Campos com resenhas biográficas dos homenageados e, como não podia deixar de ser, com a transmissão das respectivas interpretações mais emblemáticas.
A quem se queixa – e com razão – da pobreza da programação musical na rádio portuguesa, o "Café PLaza" é um programa vivamente recomendado: aos mais velhos pela oportunidade de reviverem as músicas da sua juventude e aos mais novos pela possibilidade de descobrirem artistas e músicas que a rádio deixou de passar. No meu caso, devo confessar que Germano Campos me tem proporcionado conhecer a obra de cantores e músicos que conhecia só de nome ou de que nunca ouvira falar. Foi o caso de Nelson Riddle, autor de uma orquestração de "Lisboa Antiga", tema que esteve no top norte-americano durante várias semanas consecutivas há precisamente 50 anos, em Março de 1956. Quantas pessoas em Portugal sabem que um fado, embora em versão instrumental, foi um êxito comercial nas terras do Tio Sam? Este é um exemplo que podia servir de lição a muitos provincianos da nossa praça que aceitam acriticamente tudo o que vem de fora e ostracizam a nossa música mais autêntica.
Embora não se trate de um programa de discos pedidos, Germano Campos tomou a louvável iniciativa de pedir aos seus ouvintes que apresentem sugestões de peças e ou artistas que gostariam de ouvir. É uma ideia que se aplaude, porque sem desvirtuar o conceito do programa essa interactividade ajuda a criar uma salutar cumplicidade entre o autor e o auditório e tem o efeito benéfico de fidelizar os ouvintes. Eu tenho o prazer de ser um deles.

Nota: O "Café Plaza" situa-se na Antena 2 e está aberto aos domingos das 7 às 10 horas da manhã. Os amantes de música brasileira estejam atentos porque está prometido para breve um espaço alargado dedicado à bossa nova. A não perder!

17 março 2006

Rádio por cabo

Através da 'powerbox' do serviço digital da TV Cabo é, a partir de agora, possível ouvir várias estações de rádio portuguesas, incluindo quatro canais da RDP – Antena 1, Antena 2, Antena 3 e RDP-África. Pretende-se que a rádio volte à sala depois de ter sido expulsa pela televisão, segundo as palavras de Rui Pêgo, director de programas da RDP. Se bem que alguns televisores já permitiam a sintonia de FM e praticamente todos os receptores A/V e aparelhos de cinema em casa permitam a recepção de rádio, é uma medida que os radiófilos aplaudem porque, em princípio, vai proporcionar uma recepção com melhor qualidade de som. Mas não posso deixar de perguntar à direcção/administração da RDP: por que motivo ficou de fora a RDP-Internacional? O leque de oferta de rádio aumentaria e os consumidores só ficariam a ganhar, principalmente os amantes de música portuguesa, apesar de nem toda a música portuguesa que é seleccionada para o canal ser a melhor.
Saúdo a TV Cabo por passar a oferecer este novo serviço aos seus clientes, porque é uma alternativa à internet, no caso das rádios de cobertura local ou regional. No tocante às rádios de cobertura nacional, em particular da RDP, duvido sinceramente que as audiências registem um aumento digno de nota. O mais provável é que ocorra uma transferência de alguns ouvintes do FM e da internet para o cabo. Para que os telespectadores habituais da TV Cabo prefiram a rádio a alguns bons canais temáticos de televisão, inclusive de música, é preciso que as estações de rádio apresentem uma programação apelativa e de qualidade. E neste ponto, o estado actual das coisas deixa muito a desejar. Por exemplo, não acredito que as pessoas aproveitem esta nova funcionalidade para começar a ouvir no televisor as banais e descartáveis musiquinhas da 'playlist' da Antena 1, quando têm à sua disposição alternativas bem melhores.

15 março 2006

Músicas cortadas



Para compensar a pobreza da 'playlist', a Antena 1 apresenta algumas rubricas musicais de interesse. Uma delas chama-se "Outras Histórias da Música" e nela Luís Filipe Barros (na foto) evoca figuras e músicas da Historia do Rock. Trata-se de uma rubrica que gosto de ouvir e que me tem proporcionado a descoberta de boas músicas dos anos 60 e 70. Costumo ouvi-la cinco minutos antes do noticiário das nove da manhã, mas começo a perder a paciência com o locutor António Macedo quando interrompe sistematicamente as músicas para se pôr a falar de outros assuntos. O senhor António Macedo tem todo o direito de não apreciar as escolhas de Luís Filipe Barros mas está a esquecer-se de uma coisa elementar: o apontamento não existe para satisfazer os gostos de quem faz a locução da Antena 1 mas dos ouvintes que pagam o serviço público. Afinal tudo isto entronca numa questão de profissionalismo: quem assegura a continuidade da emissão não tem outra coisa a fazer do que pôr no ar as rubricas definidas na grelha e respeitando os horários estipulados. Interromper uma rubrica de forma sub-reptícia pondo-se a falar por cima ou colocá-la tardiamente no ar para ter a desculpa de a cortar por causa do sinal horário são manobras sujas e intoleráveis. Eu falo enquanto ouvinte mas presumo que Luís Filipe Barros e os autores das músicas cortadas também não devam apreciar a atitude abusiva do senhor António Macedo. Fica expresso o meu protesto na esperança de que, doravante, eu e outros ouvintes interessados tenhamos a oportunidade de ouvir as músicas até ao fim.

10 março 2006

Sobre a ditadura das 'play-lists' (II)

A situação das 'playlists', e a sua utilização como instrumento de censura, já foram várias vezes aqui abordadas, a propósito do que vem acontecendo na rádio pública, designadamente na Antena 1. O problema continua actual e, neste âmbito, recomenda-se a leitura de um texto intitulado "O autor, a música e a rádio" na página Rádio Zero.

08 março 2006

"Cine 1" fora de prazo


Isabel de Castro contracenando com Ruy de Carvalho, no filme "Domingo à Tarde" (1966), de António de Macedo

A seguir ao "Prós e Contras" desta semana, a RTP-1 transmitiu o documentário "Antes de a Vida Começar", realizado por António Correia, sobre a vida da actriz Isabel de Castro, recentemente desaparecida. É de louvar que a RTP-1, depois dos anos em que andou a copiar o telelixo das privadas, esteja finalmente a fazer serviço público, com a exibição de documentários, de séries de época e de filmes de qualidade (a grande reportagem continua a ser a grande lacuna). Lamenta-se o horário tardio a que esses programas são muitas vezes colocados mas, em todo o caso, é melhor do que nada. Sempre há a possibilidade de se recorrer à gravação programada, para depois se fazer o visionamento a horas decentes.
Na manhã subsequente à transmissão televisiva do citado documentário, ouço na rubrica "Cine 1" uma peça da jornalista Teresa Nicolau justamente dedicada ao documentário em questão sendo dito que o mesmo será exibido na RTP em data não anunciada. Eu não queria acreditar no que estava a ouvir. Quem não esteve atento à programação da RTP-1 e não viu o programa em directo ou não o gravou, não seria com certeza com a informação da Antena 1 que o iria ver. É caso para perguntar: andam a dormir na forma? O que é que falhou? Em primeiro lugar, é notório que a jornalista Teresa Nicolau não fez todo o trabalho de casa, ao não obter junto da direcção de programas da RTP-1 a informação sobre a data estipulada para a respectiva transmissão. Mesmo presumindo que a peça tenha sido gravada com muita antecedência nada justifica que a mesma não tenha sido actualizada (uma trivial operação de montagem) porque a informação estava disponível na internet e mesmo no teletexto. E na qualidade de jornalista da RDP, Teresa Nicolau teria certamente acesso a essa informação junto da RTP (por sinal instalada no mesmo edifício) antes de ter sido tornada pública, o que torna o caso ainda mais incompreensível. Mas o cúmulo do absurdo foi a peça ter sido emitida fora de prazo. E aqui terá de se pedir contas a quem faz a calendarização da rubrica "Cine 1", que desconheço se é a própria Teresa Nicolau se o responsável pela área do cinema, Tiago Alves. Qualquer que seja a circunstância, trata-se de um erro de palmatória próprio de amadores. Muito mal vai o serviço público de rádio quando estas coisas acontecem.

06 março 2006

Os ouvintes da RDP são todos bilingues (anglófonos)?

No rescaldo da cerimónia de entrega dos Óscares, a Antena 1 transmitiu uma peça alusiva ao evento elaborada pela jornalista Lara Marques Pereira. Até aqui nada a censurar, embora tenha achado exagerado o enfoque que a Antena 1 deu, durante as últimas semanas, aos filmes nomeados para os Óscares (cultura não é só cinema e cinema não é só Hollywood). Gostei que nessa peça jornalística fosse mencionado o Óscar honorário de carreira atribuído a Robert Altman, um dos grandes cineastas norte-americanos, realizador de filmes como "M.A.S.H.", "Nashville", "Correntes", "O Jogador" e "Gosford Park" mas até agora injustamente esquecido pela Academia de Hollywood. O reparo que tenho a fazer prende-se com a ausência de tradução das palavras do cineasta que a jornalista pôs no ar. Não falo por mim, porque além do inglês domino o francês e arranho o 'portunhol'. Falo sobretudo pelos muitos milhares de ouvintes da Antena 1 que do inglês não conhecem mais do que duas palavras – Yes e No. Quem faz jornalismo não se pode esquecer de uma coisa elementar: a informação deve ser entendida pelo universo de pessoas a que se destina. Na televisão há as legendas, na rádio tem de haver a tradução simultânea. No caso concreto de Robert Altman, nem sequer daria muito trabalho fazer a tradução do excerto apresentado e a respectiva locução. Mais brio profissional não ficava nada mal. Bem melhor faz a TSF neste capítulo apesar de ser uma rádio privada e com um orçamento mais reduzido. Por outro lado, a RDP enquanto operador de serviço público tem a obrigação expressamente assumida de defender e promover a língua portuguesa, pelo que devia ter um especial cuidado nesta área.

03 março 2006

Evocações e programas culturais

Anteontem, dia 1 de Março, passaram 10 anos sobre da morte de Vergílio Ferreira. A Antena 1 dedicou à efeméride um pequeno apontamento, realizado por Ana Aranha, transmitido no programa da manhã. Pareceu-me muito pouco porque Vergílio Ferreira, indubitavelmente um dos escritores mais importantes do século XX, merecia algo mais do que uma breve e diminuta evocação. Tenho reparado que sob a direcção de Rui Pêgo há um reforço das promoções a determinados espectáculos e eventos culturais – o que se aplaude – mas a rádio, por si mesma, tem também uma função cultural. É muito redutor para o serviço público de rádio limitar-se a fazer referência a actividades extra-muros e menosprezar a componente cultural nas suas emissões. Neste contexto, parece-me muito grave a escassez de programas culturais (não musicais) nas actuais grelhas dos canais da RDP, designadamente na Antena 2. O programa "Um Certo Olhar" dá conta da actividade cultural e aborda algumas temáticas humanísticas e científicas – um pouco ao correr da pena – mas embora não seja avesso à existência de um magazine cultural diário, confesso que preferia continuar a contar com o programa "A Força das Coisas" nas tardes de sábado, pelo momento de calma e reflexão que proporcionava sobre vários aspectos da contemporaneidade. Também se faz sentir a falta de programas específicos em cada uma das várias áreas do saber, que tratem os assuntos com mais profundidade e sem constrangimentos de tempo e num horário adequado. É de lamentar que tenha desaparecido o hábito de fazer ciclos temáticos, mas mais grave ainda é não haver espaços de divulgação cultural, que não se limitem a tratar da actualidade. É importante que haja magazines do tipo "Seara de Sons" e "Escrita em Dia", mas não se pode olvidar programas que dêem ao ouvinte uma perspectiva histórica e abrangente das várias temáticas. Por outro lado, há potencialidades intrínsecas à rádio que ela pode explorar como nenhum outro meio, designadamente no campo da oralidade. Mas por mais absurdo que possa parecer, as artes por excelência da oralidade – poesia e teatro – estão a ser alvo de um vil desprezo pelo serviço público de rádio. A poesia resume-se a uma fugaz rubrica ("Os Sons Férteis") e ainda por cima num horário impróprio. E onde está o teatro radiofónico?
Na área das evocações existiu durante vários anos um programa justamente intitulado "Evocações", de meia hora de duração e que era emitido ao fim-de-semana. Em meados de 2005 foi abruptamente abolido sob o pretexto da entrada em vigor da grelha de Verão e nunca mais voltou à antena. Porquê? Um ano tem 52 semanas e em cada uma delas há sempre um evento (nascimento ou morte de uma personalidade, acontecimento histórico, etc.) digno se ser evocado. Se a actual direcção não quer aproveitar os recursos humanos que tem à disposição para a produção e realização de programas culturais, ao menos que faça uso do rico e extenso arquivo histórico. No caso concreto de Vergílio Ferreira, há certamente material de interesse que seria pertinente pôr no ar. Em alguns países europeus como a França e a Grã-Bretanha, a par de um canal dedicado à música clássica existe um canal cultural. Como isso não acontece em Portugal, cabe à Antena 2 desempenhar esse papel.

Mais uma referência...

Em IRREAL TV:


A voz da Cidadania: a revolução inesperada

A blogosfera está a permitir, pela primeira vez na história, uma participação autónoma e activa dos cidadãos na discussão do sistema e dos conteúdos dos media. É claramente o escrutínio da Cidadania que emerge. E é algo que o sistema de media é (foi) incapaz de fazer desde a revolução industrial. Isto, a propósito de mais um blogue na área: A Nossa Rádio... ouvintes da RÁDIO PÚBLICA com opinião!

01 março 2006

F. Rui Cádima no Blog IRREAL TV

O caso Rui Dias José (RDP)

Formas de Censura em Portugal no Pós-25 de Abril
(cont.)
Um histórico do caso no site do Grupo de Amigos do programa (Feira Franca).

Rui Dias José, estimado colega dos tempos do Liceu Padre António Vieira, e das lutas liceais contra o Fascismo e a Guerra Colonial, está hoje na 'prateleira' da RDP, mas pode ser encontrado, por exemplo, na organização dos "Passeios de Jornalistas": em http://www.cafeportugal.net/ e em http://cafe-portugal.blogspot.com/.