24 fevereiro 2006

"Viva a Música": lugar à música portuguesa



Armando Carvalhêda levou ontem ao seu "Viva a Música" a fadista Maria Ana Bobone, sem dúvida alguma uma das melhores vozes da nova geração. Já tinha ouvido alguns temas do disco "Nome de Mar" pela mão de Edgar Canelas, no programa "Vozes da Lusofonia", mas voltei a sentir o mesmo prazer ao ouvi-la no palco da rádio. Também fiquei algo admirado que Maria Ana Bobone, um dos talentos que João Braga tem trazido para a ribalta, só agora tenha lançado o seu primeiro disco a solo. Ela alegou razões de índole pessoal mas cá para mim parece-me que deve ter havido uma outra razão bem menos prosaica, quero dizer, a crescente insensibilidade dos responsáveis das editoras face à música portuguesa mais autêntica. Bem, o disco está aí para provar que o fado continua vivo e de boa saúde e que não é música de museu, como alguns pretendem e que gostariam de o ver confinado às casas de fado para consumo de turistas e de alguns saudosistas. Felizmente que há também na rádio um espaço que faculta a audição ao vivo não apenas de fado mas também de outros géneros da música portuguesa e lusófona. E isto deve ser louvado e enaltecido, numa altura em que algumas pessoas de responsabilidade não tem o menor pejo em chamar música portuguesa às canções que alguns portugueses cantam em inglês (de música cantada em língua inglesa prefiro mil vezes a que é feita por alguns britânicos e americanos, do mesmo modo que prefiro a Amália a uma qualquer japonesa por melhor que ela cante o fado). Outro aspecto que faço questão de elogiar é a preocupação que Armando Carvalhêda tem em contemplar as músicas mais representativas da portugalidade – fado e música de raiz ou inspiração tradicional. Numa altura em que as 'playlists' não são mais do que instrumentos ao serviço dos interesses mercantilistas das grandes editoras, assume ainda maior importância a existência de espaços que procuram corresponder às expectativas dos segmentos do público que não se contentam com os produtos mais medianos e comerciais. Como tal, esses ouvintes – entre os quais me incluo – têm uma dívida de gratidão para como Armando Carvalhêda pela atenção que tem dado à música que melhor exprime a nossa identidade. Pena é que esse paradigma de serviço público não seja extensivo aos espaços musicais de continuidade da Antena 1.

Nota: O "Viva a Música" vai para o ar, em directo, às quintas-feiras (16h) e repete aos sábados (15h). Quem quiser pode assistir ao vivo no Teatro da Luz, ao Colégio Militar em Lisboa.



Meu Nome É Nome de Mar



Letra: Manuel Alegre
Música: João Braga; arr. Ricardo Rocha
Intérprete: Maria Ana Bobone* (in CD "Nome de Mar", Vachier & Associados/Farol Música, 2006)


[instrumental]

Meu nome é nome de mar
Onde o longe é mais visível
Nome de sonho a embarcar
Para um amor impossível
Meu nome é nome de mar [bis]

Meu nome é nome de vento
Escrito na areia na espuma
E na flor do pensamento
Que é luz por dentro da bruma
Meu nome é nome de vento [bis]

Meu nome é nome de fado
Nome de casa e de rua
Nome de encontro marcado
Na outra face da lua
Meu nome é nome de fado

[instrumental]

Na outra face da lua
Meu nome é nome de fado


* Ricardo Rocha – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola
Marino de Freitas – baixo
Direcção musical e arranjos – Ricardo Rocha
Produção – Maria Ana Bobone
Gravado ao vivo na Igreja da Graça, Lisboa
Gravação, misturas e masterização – João Magalhães



Capa do CD "Nome de Mar" (Vachier & Associados/Farol Música, 2006)
Fotografia – Francisco Van Zeller
Design – Rui Garrido

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